Por Camila Gusmão
Os alunos do quinto ano C e D, da Escola Municipal Joselina Moreira de Oliveira, produziram o primeiro livro da escola, chamado “Poetas da Escola Joselina”. A publicação é composta por 44 poemas autorais dos estudantes e foi distribuída apenas para os alunos e familiares, em 2020 será lançada a segunda edição, disponível para a venda. A ideia de reunir as poesias em um livro partiu das professoras de língua portuguesa Graça Alves e Mairli Lima, no final do ano letivo, para incentivar os alunos na criação de textos e guardarem de recordação.
Desde o início do ano, quando começou a dar aulas para a turma, a professora Graça Alves observou que a maioria dos seus alunos tinham dificuldade para ler e escrever. A produção de poemas foi o método de ensino que despertou o interesse dos alunos em aprender, foi então que teve a ideia de criar um livro. “Através da poesia muitas crianças foram alfabetizadas agora no 5º ano. Quando eu comecei a contar historinha infantil e ler poemas eles ficaram paralisados, ouvindo e gostando, entendi que essa era a chave. Aqui nessa escola tem verdadeiras pérolas, é só caçar e lapidar”, comenta.
Para a professora Mairli Lima, uma das organizadoras do livro, a produção de poemas é um dos melhores recursos para ensinar os alunos. Os textos curtos e com rimas suscitam o imaginário da criança que cria fantasias e ideias. “Eles preferem esse tipo de texto porque nessa idade gostam de falar sobre os sentimentos deles, sobre amizade, sobre a família”, declara a professora.
Através das oficinas ofertadas pelo programa da Olimpíada de Língua Portuguesa, em 2019, as professoras aprenderam a fazer correção de poemas e organizaram o livro. As crianças foram incentivadas a escrever sobre Rondon do Pará, local onde vivem, com o objetivo de aproximar os alunos da realidade regional, estabelecer um vínculo com a cidade e desenvolver sua cidadania desde a infância.
De acordo com a professora Graça Alves, às crianças que estudam em escola de periferia, como a Joselina de Oliveira, no bairro Jaderlândia, tem mais dificuldades ocasionadas por suas condições socioeconômicas. Portanto, é necessário observar o meio em que a criança vive, como vive, e a partir disso desenvolver métodos de ensino que se adequem ao contexto social em que ela está inserida. “Aqui a gente não tem que olhar só o aprendizado, tem que olhar o todo. As crianças vêm pra escola sem merendar, são um pouco desnutridas, tem dificuldade para se concentrarem. Mas tem verdadeiras pérolas, é só caçar e lapidar”, comenta.
A professora Mairli Lima ressalta que o livro levantou a autoestima dos alunos e as pessoas perceberam que apresar das dificuldades existentes em uma escola de bairro periférico, todos têm capacidade para produzir trabalhos de qualidade e desenvolver qualquer tarefa. “Eu acredito que para eles é até mais difícil chegar nesse nível por conta do cotidiano deles, das dificuldades que eles enfrentam. Nós sabemos que aqui no bairro a realidade é bem complicada, mas mesmo com todas as adversidades eles conseguiram fazer um belo trabalho”, finaliza.
O projeto também ajudou Ricardo Alves, de 18 anos, que escreveu o poema “O açaí é muito bom”. O aluno especial, com habilidades sociais e cognitivas limitadas, estava no 5º ano e não era alfabetizado. “Antes eu não sabia ler nem escrever e aprendi fazendo os poemas. Escrevi sobre o açaí porque gosto muito”, comenta.
A aluna Camila Moraes, 12 anos, afirma que evoluiu bastante na escola depois que começou a escrever e se inspirou nos seus pais para criar o poema “Família”. “Meus pais me inspiraram porque eles trabalham muito e são muito humildes, aí eu quis fazer um poema em homenagem a eles”, declara.
Para Maria Eduarda de 12 anos, escrever poesias para o livro foi fundamental para desenvolver suas atividades na escola. A aluna gostou de escrever e pensa em ser Jornalista quando crescer. “A professora pediu pra gente fazer um poema sobre a nossa cidade, aí eu fiz “O lugar onde vivo”. Uns meses depois ela pediu pra gente fazer um para colocar no livro, e vi meu irmão brincando e fiz o da criança. Minha mãe falou que tá excelente. Melhorei na escrita e na leitura depois que comecei a fazer poemas”.
O poema “Quero flor, quero água” foi escrito pelo aluno Hiago Alves de 11 anos. “Fiz esse poema porque gosto de comer. Eu me senti muito alegre em ver meu texto publicado. Minha mãe quase chora quando leu esse poema feito por mim”, afirma.