Por Bárbara Ferreira, Fernanda Soares e Geciane Costa
O desemprego tem angustiado parte dos brasileiros em todo país, inclusive em cidades do interior, como é o caso de Rondon do Pará. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), em 2019, o município possuía 52.357 habitantes, e grande parte desses moradores tem se preocupado com o futuro. Eles revelam como tem sido dramático pensar todos os dias sobre essa instabilidade. Segundo o IBGE, quase 12 milhões de pessoas estavam desempregadas até 2021, e o número de pessoas sem registro na carteira de trabalho no Brasil está entre os maiores do mundo.
Esse cenário toma proporções ainda maiores quando se trata de cidades com população predominantemente voltada para algum um tipo de agrupamento econômico, sendo setor agrícola, de cultivo tradicional, mecanizado empresarial, comércio e pecuária. Nesse contexto, alguns espaços são fechados para grande parte de uma comunidade sem qualificação e, por outro lado, os trabalhos informais têm aumentado a cada dia.
O progresso sempre pareceu algo latente em Rondon. Durante muito tempo, a economia era fortemente ligada à extração de madeira, dando visibilidade para investimentos públicos e privados. Nos anos 2000, a economia girava em torno das madeireiras e das carvoarias, com diversas irregularidades nesses setores. No final da década, houve uma decadência dos mesmos; hoje, a economia é fomentada nos setores agropecuário e comercial.
Assim como todos os municípios da região sudeste do estado, com ocupações de pessoas de vários estados, e o fato do distanciamento cultural da capital Belém, a comunidade rondonense foi composta de uma cultura particular formada, principalmente por mineiros, baianos e capixabas. Em particular, atraiu muitas famílias, uma delas foi a de Wanderley Matias dos Santos. Ele relata que, quando os pais, lavradores, trouxeram a família de Belo Horizonte, ainda com os filhos pequenos, compraram terras na expectativa de uma vida melhor. Mas, segundo o entrevistado, Rondon sempre foi um município difícil de encontrar emprego. Ele relembra que, com 13 anos, passou a morar na cidade para estudar, e foi difícil encontrar emprego sem ter qualificação.
Hoje, casado, e pai de dois filhos, ele relata que nunca foi fácil trabalhar e empreender no município, que por duas vezes passou como microempreendedor, por momentos difíceis, tanto nos anos de 2008 e, recentemente, em 2015. O que chama a atenção de Wanderley é o fato de o município ser tão grande e ter pouca oportunidade de qualificação. Atualmente, o empresário tem duas panificadoras fixas e 16 funcionários, grande parte delas, mulheres, mas todas foram contratadas, no início, sem qualificação; agora já estão prontas e aptas ao serviço local, e possuem carteira assinada. “Não é culpa das pessoas, a questão é que a cidade não oferece meios para que as pessoas se qualifiquem, é necessário pensar em formas e estruturas mais sérias que atendam melhor à população, cursos mais estruturados, para outros tipos de setores, não mais esses que sempre vêm para o município. A qualificação ajudará as pessoas a ficarem prontas para o mercado de trabalho”, afirma.
De acordo com o economista, Wesley Oliveira, do município de Parauapebas, o número de MEI está crescendo fortemente no município, como consequência da pouca oferta de emprego. É necessário perceber como a falta de qualificação muitas vezes, é o que separa o desempregado do mercado de trabalho, é possível elencar como os empreendedores por necessidade, aqueles que estão desempregados e precisam gerar renda para sobrevivência da sua família, investem o dinheiro da rescisão contratual para abrir um negócio autônomo, em sua maioria na modalidade empreendedor individual.
Segundo o secretário de administração e finanças, Josimar Feitosa, com relação a prefeitura, o administrativo tem fomentado relações de convênios com empresas de construção civil, exigindo das empresas recém chegadas um percentual de 100% da mão de obra, serem pessoas do município, por mais que as empresas se apresente com profissionais qualificados, mas é de extrema importância oferecer serviços braçais para a comunidade.
O secretário elenca que há outros meios de geração de empregos no município, a exemplo das serrarias, comércio e pecuária, o mesmo relata que este agrupamento faz diminuir o índice de desemprego. No quesito de estagiários, é permitido a contratação de até 2 anos sendo jovens aprendiz, da área do ensino médio, superior e EAD, dando oportunidades também para os de cursos de Jornalismo, Administração e Ciências Contábeis ofertados pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA no campus do município.
O secretário, ao ser questionado sobre mais oportunidades de empregos em Rondon, fez um comparativo com os anos anteriores, constatando que o município se manteve estável, pois, neste ano, o município recebeu 15 novas empresas. “Com referência à cidade de Marabá, nós somos a cidade mais populosa, temos um PIB de 535 milhões de reais, sendo participativos, direta e indiretamente com o estado do Pará, 42 % desse PIB é fomentado pela administração pública o outros 58% é divido entre comércio, indústria e pecuária”, relata.
O país vive uma crise por falta de emprego, imagina se para cada vaga aberta, houvesse trabalhadores aptos a ocupá-las? Infelizmente não é o que acontece, simplesmente pela falta de qualificação, buscar por uma rede de apoio neste momento é que faz muito deles procurar por órgãos federais e estaduais. Atualmente, o município de Rondon do Pará possui o Sistema Nacional de Emprego, SINE, sua diretora, Daniely Lopes, relata que a unidade atende não só o município sede, mas também os que fazem parte do entorno, como: Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins – PA, São Pedro da Água Branca – MA, Vila Nova – PA e Dom Eliseu – PA.
A demanda de visitas para dar entrada no seguro desemprego passa de 30 pessoas por dia no SINE. Aqui no município, o número é reduzido, porém a procura por emprego é muito grande. A comunicação do SINE para divulgar vagas de emprego à comunidade local usam as redes sociais, status do WhatsApp e o “boca a boca”.
O município possui o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), este oferta turmas no período noturno, Administração e Ciências Contábeis, e Jornalismo no período integral. Deles Oliveira, recém-formada em Contábeis e moradora de Rondon do Pará, revela a difícil missão de estudar, se formar e, ainda assim, ficar desempregada, por não ter espaço de trabalho no município. Atualmente, é empregada doméstica, ocupação que para ela foi a mais acessível que encontrou, por já ter exercido a profissão antes de concluir a graduação. A preocupação é estar qualificada na perspectiva de encontrar emprego. Após ter concluído a faculdade, fez uma pós-graduação e outros cursos para se manter informada. “A cidade não oferece aquilo que você tem de conhecimento, nasci aqui em Rondon, mas morava na cidade vizinha”, informa.
O município apresenta dificuldades em acolher estudantes recém-formados para a primeira vaga de emprego. Escolher um curso torna-se desafiador pela instabilidade de contratação. Deles resolveu fazer o curso por achar interessante, mas também na expectativa de ser mais fácil ingressar no mercado de trabalho. “Não achar emprego me faz se sentir excluída, por ser formada, graduada, e ser faxineira, que para mim não é nenhum problema, mas não foi isso que desejei pra mim. Hoje, moro com meus pais, fico muito triste com falta de oportunidade, mesmo sabendo que posso contribuir com meus conhecimentos, e o mercado local só tem a ganhar com isso”, afirma.
A busca de qualificação perpassa os limites dos municípios. Rondon do Pará recebe muitos adolescentes na busca de qualificação por meio do ensino superior. Edeilson Paixão, da cidade de Bragança, recém formado em Contábeis, conta que passou 3 anos no município. Desde que chegou à cidade, pode perceber como é difícil encontrar emprego na cidade. Como o seu curso era no período da manhã, encontrar emprego de meio período era ainda mais difícil. Mesmo com toda dificuldade, ele conseguiu se formar e se manteve durante este tempo com bolsa de estudos ofertadas pela universidade e a ajuda dos familiares. “Infelizmente as vagas que surgem no município são somente na prefeitura e empresas conveniadas, a impressão que tive é que a cidade não abraça os universitários, mesmo sabendo que o estudante pode contribuir e melhorar as políticas internas das empresas”, reclama.
O número representativo de jovens que não sabem qual profissão seguir ao sair do ensino médio é preocupante. Em entrevista com uma jovem do ensino médio, da escola Dionísio Bentes do município, Bianca Ferreira de Souza, cursando o terceiro ano, relata das expectativas para a vida profissional após o término do colégio. Mesmo com todas as dificuldades para estudar, por morar no km 56 na zona rural, tem planos de sair da cidade para fazer curso técnico em enfermagem.
A estudante percebe a pouca oportunidade de emprego na cidade, e para ela a melhor forma de terminar o ensino médio é procurar outra cidade para cursar nível superior ou técnico. Ao ser questionada sobre o fato de querer de ir embora, a mesma revela que este tipo de posicionamento é algo normal em roda de conversa na escola, entre as amigas e também no ciclo familiar. Sendo a filha mais velha, ela sente uma pressão na questão dos estudos, além de ser um sonho da jovem, a família incentiva e exige a formação de Bianca. “Gostaria que fosse um assunto conversado mais em sala de aula, falar de como vai ser depois que sair do ensino médio, porque muita gente como eu fica perdida, eu mesma, depois que acabar a escola, eu vou ficar perdida, mesmo desejando fazer um curso técnico”, aponta.
A expectativa de Bianca é igual de muitos outros jovens, com o término do ensino médio, pretende correr atrás de emprego, que ajude a bancar as despesas do curso e posteriormente poder ajudar financeiramente sua família.