Por Camila Gusmão, Kawane Ricarto e Manoela Ferreira
Na flora da Amazônia, os moradores herdeiros de um vasto conhecimento tradicional, encontram remédio para muitos males que assolam a população. Segundo o Ministério da Saúde (2006), a região é o maior centro de diversidade de plantas medicinais do mundo.
Os produtos fitoterápicos são uma alternativa acessível e eficaz para a população em casos de cura e tratamentos de doenças, fato que auxiliam no contexto socioeconômico das pessoas que não têm acesso à saúde pública de qualidade. No Brasil, país com diversas culturas, é comum o uso de ervas originárias de várias tradições com saberes e culturas particulares para o tratamento de doenças. A região amazônica possui uma vasta biodiversidade com plantas comprovadas cientificamente pela sua eficácia no tratamento. Wilma da Silva, formada em Ciências Naturais, explica que, no Brasil, essa prática vem desde os povos nativos e se mantém por meio da oralidade, tornando essa uma cultura de cura intergeracional que a todo momento tem seus pés no passado, fazendo com que essa vivência não seja esquecida. “As plantas medicinais são um meio alternativo para as pessoas vulneráveis economicamente, ou para locais onde o sistema de saúde é precário. Elas são importantes justamente por dar essa alternativa para as comunidades”, comenta.
O conhecimento tradicional é estudado e comprovado cientificamente
Os medicamentos fitoterápicos, classificados como um tipo de medicina alternativa, estão sendo reconhecidos pela ciência a partir de informações coletadas do conhecimento popular. Para o professor na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Dr. Wagner Luiz Ramos, o conhecimento tradicional é rico em informações sobre plantas medicinai, e ainda reforça o papel fundamental das pesquisas. “É importante desenvolver produtos acessíveis para a população. A colaboração popular faz com que a comunidade se sinta mais segura na hora do consumo desses produtos. Para isso, é necessário que haja políticas públicas voltadas ao assunto”, relata o pesquisador.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% da população mundial utiliza as plantas medicinais, mas é necessário alertar para os perigos dos efeitos colaterais quando usadas de maneira inadequada. Como lembra o professor, “as plantas medicinais não devem ser usadas de forma indevida. Existem proporções certas de droga vegetal e água, de droga vegetal e álcool para preparar os remédios”, esclarece.
Confirmação do poder de cura das plantas
As pesquisas desenvolvidas pelo grupo de trabalho do professor Ramos são voltadas para atender às demandas da sociedade, confirmando a segurança do uso de fitoterápicos focado no retorno social da pesquisa. “As pesquisas científicas acerca do assunto contribuem para o fim do preconceito que existe em relação ao uso de plantas medicinais”, explica.
O sr. Amarildo Novais, morador de Rondon do Pará, cultiva uma série de plantas em seu quintal, ele afirma que a Amazônia é muito rica no aspecto das plantas medicinais. “A Moringa serve para diabetes, serve para limpar o sangue e para proteger de algumas doenças, entre muitas outras. Eu cultivo algumas, tem as frutíferas como a graviola, as folhas, a Erva de Passarinho, a Ora-pro-nóbis que uso na salada e é rica em ferro”, afirma. O conhecimento de Novais sobre o uso de fitoterápicos foi adquirido pela família. Como moradores da zona rural em um território cheio de plantas para recorrer em casos de doenças, sua família cultivava plantas medicinais. Mas ele adverte que é necessário ter conhecimento sobre o uso desses medicamentos, “se você usar as ervas sem conhecimento, pode se intoxicar ao invés de se curar”, previne.
Em dezembro de 2022, o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Fiocruz) disponibilizou um banco de dados com informações bibliográficas sobre plantas medicinais a partir do conhecimento tradicional. A iniciativa é resultado de um estudo realizado pelo herbário Coleção Botânica de Plantas Medicinais (CBPM), do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde da Unidade (Cibs), com apoio da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz). A plataforma tem como objetivo a valorização do conhecimento popular e a comprovação, através de pesquisas, do uso de plantas medicinais. Além disso, busca incentivar o desenvolvimento de produtos e políticas de saúde que deem ênfase à biodiversidade brasileira. O acervo atualmente conta com 300 espécies.