
View over various organic vegetables are being sold at the counter at the market from local farmers. Tomatoes, cucumbers, carrots, onions, garlic and potatoes in baskets.
Por Adria Sousa e Ana Lua Franco
Desde o surgimento da pandemia, a alimentação da população brasileira foi grandemente afetada, ocasionando, inclusive, em migração interna .O termo migração corresponde à mobilidade espacial da população. Migrar é trocar de país, de Estado, região ou até de domicílio. Esse processo ocorre desde o início da história da humanidade.

Seja por motivos de estudo, trabalho ou situações familiares, é notório o fluxo de pessoas entre diferentes regiões do país. A migração interna ou interregional ocorre entre as diferentes regiões do país ou entre municípios de um estado. Segundo Paulo Feldmann, professor de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, a migração ocorre, principalmente, por motivos econômicos. “O movimento, como sempre, é motivado por razões econômicas. As pessoas mudam porque procuram empregos e, muitas vezes, eles não estão onde elas moram, e elas precisam se dirigir para as cidades, as capitais, onde há um número expressivo de contratações e de empregos”, ressalta.
A partir dessa temática, trazemos o nosso enfoque para a cidade de Rondon do Pará, localizada no sudeste do estado. A cidade tem um fluxo contínuo de pessoas por motivos de emprego ou de estudo. O município possui um campus da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, que conta com os cursos de Administração, Ciências Contábeis e Jornalismo. Logo, a rotina dos novos moradores muda ao terem que se adaptar ao local em que passarão os próximos meses ou anos. De acordo com dados fornecidos pela Universidade Federal Fluminense (UFF), nos últimos quatro anos, a instituição registrou um total de aproximadamente 2,5 mil alunos nessas condições, sendo 71,8% desses paulistas e mineiros. Ainda, dos mais de 34 mil estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aproximadamente 20% são de outros estados.
Esses dados são importantes para que possamos entender como se tornou mais comum a prática da migração interna para fins de estudo e que essa, por sua vez, exige adaptação das pessoas. Dentre as adaptações, a alimentar é um dos pontos que há a necessidade de ser reportada.
Assim, essa busca por melhores condições faz com que pessoas se desloquem de seu local de origem e busquem por uma condição de vida diferente em outra cidade. No caso de Rondon, além de alunos da universidade, existem também famílias e pessoas que vêm à cidade por conta de trabalho, entre outros. Para os que são de cidades próximas, talvez o porte da cidade seja parecido ou igual ao da sua cidade de origem. No entanto, para aqueles que vêm de cidades maiores ou de outros estados e até mesmo capitais, a oferta de alimentos é um desafio para a adaptação.
Para termos um panorama de como essa falta de variedade afeta alguns dos moradores da cidade, realizamos uma pesquisa com um questionário que pedia para que as pessoas respondessem se percebiam uma oferta pequena de frutas, legumes e verduras na feira municipal. Cerca de 71,4% dos pesquisados responderam que sentem falta de alimentos variados na feira, enquanto 28,6% disseram que não. E quanto partimos para saber quais os alimentos que mais as pessoas sentem falta, o que chama a atenção são que a maioria das respostas fala de hortaliças, frutas e alimentos verdes e em natura, no geral. Alimentos que normalmente seriam de mais fácil acesso nas feiras e fruteiras da cidade, são, na verdade, os que as pessoas sentem mais falta.
No entanto, engana-se quem pensa que os vendedores não escutam essas demandas. Dona de uma fruteira, a senhora Zelita Madalena conta que, mesmo com uma oferta variada de alimentos em seu estabelecimento, é comum que os consumidores procurem por outros produtos. “Eles procuram por produtos como algumas verduras como o alface e alguns condimentos: alface, cheiro verde, ovos caipira. As pessoas até perguntam muito se são fresquinhos”, relata a vendedora. Já no dia a dia, Zelita conta que o que mais é comprado pelo consumidor que não é da cidade seria: morango, uva verde de caixinha, ameixa, pera portuguesa, brócolis e couve-flor. “Eu, como vendedora, vejo que tem algumas variedades de produtos nos quais causam algum tipo de problema, sim, porque nem todas as pessoas querem aquele produto do jeito que ele está”, acrescenta.
Em algumas respostas do questionário aplicado, há relatos de que a falta de alguns produtos impede as pessoas de fazerem receitas mais saudáveis. No entanto, essa baixa na variedade, às vezes, pode ter uma explicação. Em conversa com uma moradora do município, Ingridy Viana, uma possível motivação para que não haja uma maior oferta de frutas, legumes e verduras nas feiras e fruteiras da cidade seria porque “a maioria das frutas e verduras são cultivadas em hortas e plantações de seus próprios quintais e terrenos. Outro alimento que também é encontrado na criação de alguns moradores são as carnes brancas como o frango e o pato”, completa.
A secretária de Agricultura do Município, Gabriela Martins, informou que estão de portas abertas para receberem as demandas que os feirantes tenham. “Nós temos um projeto de revitalização da feira itinerante. Uma das alternativas do projeto é o incentivo a novas culturas. Ele prevê novas demandas, inclusive, o projeto fala que, quando sugerimos as novas culturas, vamos dar apoio técnico ao produtor. Somos nós que damos o suporte a feira itinerante do município, mercado municipal, estamos em fase de elaboração de revitalização para tentar melhorar a economia do mercado municipal”, informou. Logo, vemos que uma parte dos vendedores, muitas vezes advindos da agricultura familiar, não conseguem levar aos cidadãos toda a demanda que chega até eles. Assim, cabe aos que precisam de uma diversidade de alimentos, os buscarem em supermercados ou até deixar de consumi-los por conta da escassez de alguns alimentos, ocasionando em uma maior dificuldade de uma alimentação mais equilibrada e saudável.