O criador do Centro, Alberto Rocha, explica a necessidade do projeto sair do papel e ser aprovado em 2024 pela Câmara dos Vereadores
por Kauã Fhillipe e Reneida Nascimento
Centros de reabilitação são meios de trazer a vida e dignidade de pessoas que se encontram em situação lamentável, em decorrência do vício em álcool e/ou outras drogas. Segundo o portal do Ministério da Saúde, em 2021 o Sistema Único de Saúde (SUS), registrou 400,3 mil atendimentos para pacientes com transtornos mentais e comportamentos relacionados ao uso de drogas e álcool e esse número é uma crescente em comparação ao ano antecessor que registrou 356 mil casos. Apesar do SUS oferecer apoio para quem sofre de dependência, a presença de uma casa de reabilitação é de suma importância para quem busca por um tratamento mais intensivo. Rondon do Pará contava até um tempo atrás com um centro que realizava esse trabalho, mas com a falta de apoio de representantes políticos da cidade e outros apoios, acabou sendo desativado.
O Centro Nova Vida foi fundado por Alberto Rocha há 17 anos e funcionava na popularmente conhecida como ladeira do S, numa iniciativa dele de dar oportunidade em recomeçar para pessoas com dependências. Como um ex-alcoólatra, ele reconhece os males que a bebida ou a droga podem causar na vida de uma pessoa: “eu sofri muito com alcoolismo, perdi a família, perdi o emprego”. Em decorrência disso, como uma forma para ajudar a outras pessoas que estavam na mesma situação em que ele se encontrava, criou uma casa de reabilitação em Rondon do Pará, assim que chegou no município. Rondon não tinha um centro, então quem quisesse procurar ajuda teria que ir para cidades vizinhas como Marabá, Açailândia ou Bragança, foi aí que Rocha sentiu mais ainda a necessidade da criação de um espaço.
Atual servidor público da prefeitura, na área de fiscalização ambiental, ele entrou no mundo do alcoolismo aos 16 anos e permaneceu até por volta dos 35, quando foi levado a um centro de reabilitação, no período em que morava na cidade de Cascavel, Paraná. Lá, ele assumiu que tinha uma dependência e que precisava ser tratada, “você aceita a dependência e fica melhor pra se tratar”, conta ele. Permaneceu no projeto por volta de 3 meses, o que pra ele foi o suficiente para sair do vício e desde então, nunca mais teve uma recaída. Mas Alberto destaca que por mais que alguém saia do vício, essa pessoa não se torna um “ex-dependente”: “sempre eu sou um dependente químico ou dependente de álcool, tem que evitar sempre o primeiro gole. Você sempre tem que dizer não e acabou. Hoje eu não bebo. Amanhã eu posso beber. Porque amanhã o dia pertence ao senhor, não é a mim. Então eu nunca estou curado. Igual ao diabetes. A pessoa diz, não, eu sou diabético, mas come açúcar, come doce. E tem que se conscientizar. Ele vai viver igual você vive. Eu vivo. Mas tem que fazer por onde. E aceitar que eu sou doente.”
Baseado nas suas vivências, ele viu uma chance de começar o projeto em Rondon, assim quando chegou. No início, ele e seu irmão começaram distribuindo cafés da manhã para moradores de rua, mas logo viu a necessidade de oferecer às pessoas da cidade um tratamento mais amplo. Com isso, o Centro Nova Vida foi ganhando espaço. O lugar funcionava por meio de doações feitas pela própria comunidade e por empresários do município. Eles também iam atrás de apoio da prefeitura e dos vereadores, mas nem sempre tinham resposta. Outra forma de assistência prestada, era pelo intermédio de igrejas, em que pastores e padres iam prestar solidariedade por meio de conversas e palestras.
Para ingressar, os dependentes teriam que buscar ajuda por livre e espontânea vontade, porque para Alberto só assim que gera resultados, quando a pessoa reconhece que é um dependente e quer se tratar. Acontecia também mobilizações entre moradores de rua e de bocas de fumo para conhecerem o Centro. A estimativa é que já passaram por volta de mais de 300 pessoas pelo Centro Nova Vida.
A estadia dos dependentes era de um prazo de 9 meses, em que lá tinha um acolhimento diário; os internos ficavam no centro fazendo laborterapias ocupacionais, como plantio de horta, cuidando da suinocultura, criação de galinha, entre outros. Havia também reuniões onde aconteciam as trocas de experiências e narravam sua trajetória e processo a respeito da luta contra o vício. O centro atendia tanto com que sofre com a dependência no álcool como quem sofria de dependência nas drogas. O centro tinha como colaboradores ex-dependentes que davam seus relatos pessoais a respeito da dependência, além de um monitor que auxiliava no gerenciamento do lugar e das atividades.
Por falta de um espaço físico, o Centro Nova Vida está desativado e no espaço em que se localizava, atualmente é o aterro sanitário municipal. “Nós já estamos com três anos e meio parados, esperando uma decisão dos vereadores. Porque se desse do Jardim América um pedaço, como foi proposto, nós já tínhamos montado a nossa unidade. Nós já estávamos trabalhando. Foi uma conversa, não foi nada elaborado em papel, em juizado”, explica Alberto Rocha. Ficou firmado um acordo entre a prefeitura e Alberto Rocha sobre a doação de um terreno no Residencial América para a construção de um novo prédio, mas esse acordo ficou apenas em palavras.
O criador do projeto conta da necessidade de Rondon possuir um centro como o Nova Vida, e que se os vereadores da cidade se conscientizassem assim como ele, o projeto já teria sido aprovado: “se conscientizarem que o projeto é importante para Rondon do Pará. Não é importante só para mim, para o Alberto, não. É para todos nós […] não é todos, mas dentro de Rondon do Pará, tem umas pessoas que precisam do tratamento. E vem gente de fora em busca desse tratamento”, ressalta Rocha.
“Nós já estamos com três anos e meio parados, esperando uma decisão dos vereadores. Porque se desse do Jardim América um pedaço, como foi proposto, nós já tínhamos montado a nossa unidade. Nós já estávamos trabalhando. Foi uma conversa, não foi nada elaborado em papel, em juizado” explica Alberto Rocha.
De acordo com o criador do Centro Nova Vida, no mês de outubro do ano passado, foi quando a doação do terreno para a criação do centro foi negada pela câmara dos vereadores, sob a justificativa de que um projeto como esse não pode ser dentro do perímetro urbano, tendo que ser no mínimo à 15km longe da cidade, o que para ele é errado, “se botar uma comunidade com toda essa distância, não tem a logística pra você dar assistência ao projeto. Você está excluindo as pessoas da sociedade. E não pode ser feito assim. Nem o Ministério Público aceita e nem a Federação aceita. Ninguém aceita. O projeto fica inviável”. Alberto ainda justifica que um dos principais propósitos de um centro de reabilitação, é que familiares e amigos possam visitar internos para acompanhar a fase de tratamento. O projeto de implementação do Centro Nova Vida, voltará a ser pauta na câmara, garante Alberto, assim que os vereadores retornarem do recesso do fim de ano (2023), com a previsão de ser no primeri semestre de 2024, “eu espero com a força de Deus e a compreensão de todos os vereadores, que saibam que o projeto é importante pra Rondon no Pará e seja aprovado ano que vem, se Deus quiser”.
Aos 55 anos, ele conta um pouco da sua visão do Centro para o futuro. Pretende que o projeto seja guiado por outras pessoas e que mantenham os valores e propósitos criados por ele. Ele nunca deixou de manter contato com os ex-internos, criando uma rede de apoio mesmo que de longe. Alberto, conta que graças ao Nova Vida, várias pessoas já conseguiram recuperar suas famílias e voltaram a ter vidas comuns, longe do vício.
matéria feita em dezembro/23 e publicada na edição “Comunicação Comunitária” do jornal impresso do Rondon Notícias