por Bruno Matias
A arte é uma manifestação fundamental da experiência humana, presente desde os primeiros tempos da civilização. Ela surge como uma forma de expressão e libertação por meio da dança, da música e da pintura. A definição e o desenvolvimento do conceito de arte representaram uma ruptura significativa nos paradigmas, permitindo que os seres humanos criassem obras que exploram temas complexos e, às vezes, perturbadores, como a violência. Assim, a arte se revela como uma forma essencial de liberdade e de questionamento das normas estabelecidas.
Na década de 1970, com a ocupação da região Sudeste da Amazônia Paraense por pessoas vindas do Sul e Sudeste do Brasil, a região experimentou uma expansão rápida e significativa. Essa migração trouxe consigo uma rica diversidade cultural e gerou a necessidade de novas formas de expressão artística. A resposta a esse novo contexto social e cultural foi um florescimento da arte, refletindo tanto os desafios quanto às oportunidades do momento. Portanto, a arte na Amazônia Paraense, assim como em outras regiões, não é apenas uma forma de expressão individual, mas também uma resposta às dinâmicas sociais e culturais em transformação.
Ela se torna uma ferramenta poderosa para a reflexão, a crítica e a adaptação às novas realidades enfrentadas pela comunidade de Rondon do Pará, que vai se modificando ao longo de sua trajetória histórica e política. Rosa Peres, artista, escritora e atualmente secretária de cultura de Rondon do Pará, é uma figura central na história cultural da cidade. Ela tem uma profunda ligação com as artes e com a cultura local, que remonta à sua juventude. Desde os 15 anos, Rosa tem estado ativamente envolvida em movimentos culturais em Rondon do Pará. Ela lembra com carinho e entusiasmo de sua atuação no grupo teatral Ebron, onde não apenas atuava como diretora, mas também escrevia as peças.
O grupo foi responsável por promover inúmeros festivais que marcaram época na cidade. Rosa e seus colegas, como Paulo, Valnei e Valteci, eram conhecidos por suas iniciativas ousadas e criativas. Esse período foi um auge para Rondon do Pará, caracterizado por uma rica programação cultural que incluía música, teatro e cinema. Rosa, com sua paixão e dedicação, contribuiu significativamente para essa efervescência cultural. “Às vezes as pessoas nem acreditam nas loucuras que fizemos, né? Eu, Paulo, Valnei, Valteci, um grupo de jovens que gostavam de cultura, já fizemos o festival da canção em cima de uma laje, ali em cima do Ideal Tecido e também na porta do Banco do Brasil. Na verdade, a explosão de todas essas manifestações de teatro e dança aconteceu nos anos 2000, quando assumi a Secretaria de Educação, que também abrangia Cultura e Esporte. Então, com recursos disponíveis, demos um grande apoio a essas áreas. O grupo Ararandeua surgiu em 2000 e resistiu até por volta de 2007. Saulo Ramos era o diretor, junto com Dionísio Almeida. Era um grupo de dança contemporânea, algo que Rondon nunca tinha visto antes, e eles realizaram as melhores performances teatrais, com figurinos de altíssima qualidade,” explica Rosa Peres.
Novo sonhos, novas realidades
No final da década de dois mil, muitos dos principais grupos de arte em Rondon do Pará começaram a se dissolver, em grande parte devido à falta de recursos financeiros para manter suas atividades. A efervescência cultural que havia marcado os anos anteriores foi gradualmente dando lugar a um cenário mais incerto e desafiador, onde a sustentabilidade dos projetos artísticos se tornou uma questão crucial.
Nesse contexto instável, onde a criação de novos grupos de arte era vista com incerteza, a continuidade e o crescimento da cena cultural pareciam comprometidos. No entanto, apesar das dificuldades e do risco evidente, o professor Carlos Blades decidiu ir contra a maré e ousou lançar um novo projeto artístico. Com coragem e determinação, ele desafiou as circunstâncias e apostou na formação de um novo grupo de arte, trazendo esperança e inovação em um momento de retração cultural. Então, foi criado o grupo Raízes do Pará, que se tornou um exemplo marcante de mobilização cultural entre jovens da periferia. Quando o professor Carlos Blades deu início ao projeto, durante a gestão de Adriana, o impacto foi imediato e profundo. O grupo começou com cerca de 50 jovens, e a realidade social que emergia era ao mesmo tempo comovente e desafiadora. Muitas das meninas, já mães, levavam seus bebês em carrinhos para os ensaios, uma cena que refletia as dificuldades enfrentadas por esses jovens da periferia.
Apesar do contexto de vulnerabilidade, o Raízes do Pará tornou-se um espaço de transformação, onde a arte servia como ferramenta de resiliência e empoderamento. O que poderia ser visto como assustador, dado o cenário de precariedade, logo se revelou uma força poderosa: jovens que, apesar das adversidades, encontraram na dança e no teatro uma maneira de se expressar e criar novas possibilidades para suas vidas. O Raízes do Pará, assim, se consolidou como um símbolo de resistência, mostrando que, mesmo nos ambientes mais desafiadores, a arte pode florescer e transformar realidades.
“Manter um grupo de dança hoje, que representa não apenas arte, mas também cultura, é extremamente desafiador. Mesmo com o apoio da prefeitura, ainda enfrentamos uma grande falta de recursos, e a caminhada é cheia de obstáculos. Há momentos em que penso em desistir, tamanha a dificuldade. Mas então me lembro do propósito por trás do grupo Raízes, ele foi criado para crescer, para transformar vidas através da arte. Meu sonho é ver os grupos de dança se multiplicando em Rondon, formando novos professores e artistas que possam se orgulhar de suas origens.”, explica o professor Carlos Blade.