
Por Maria Eduarda Dias
Dercilane Santos, nascida em 1978 aqui em Rondon do Pará, é filha de Dice Chaves e Amaranto Costa (in memorian) – uma das famílias pioneiras da região – cresceu na Rua dos Pioneiros, local onde sua mãe ainda reside. Desde sua infância, tinha uma criatividade surpreendente, especialmente nas brincadeiras e na reutilização de materiais, o que já evidenciava sua inclinação para o artesanato. Esse talento, transmitido em parte por uma tia artesã, esteve presente ao longo de sua vida, mas foi durante momentos de adversidade que o artesanato se tornou central para sua trajetória.
Através de materiais recicláveis, como paletes e pneus, Dercilane optou por fazer uma arte sustentável, propagando o seu conhecimento na Oficina Belas Artes, onde teve um lugar físico cedido por um admirador do projeto para armazenar e produzir as peças. Para receber os pneus, ela realiza o “trabalho de pernada”, no qual vai até as borracharias explicar o seu trabalho, falar o que acontece, para que ocorra o descarte correto e o material chegue até a sua casa. Por ser mulher, Dercilane já sofreu muitos preconceitos ao ir nesses estabelecimentos, pois não dão atenção ou não acreditam no seu trabalho, precisando sempre estar com algo visual para provar que a arte é feita por uma mulher. Suas criações são fruto de dedicação e estudo sobre os materiais, o que lhe permitiu desenvolver técnicas específicas para trabalhar com pneus, transformando-os em peças decorativas, esculturas e até mesmo em obras de grande porte, como tratores e dinossauros.
A jornada de Dercilane no artesanato começou como uma necessidade de lidar com desafios emocionais e financeiros. Após ser demitida durante a gravidez, enfrentou um processo judicial para retomar seu emprego. Mudou-se para Parauapebas em 2011, onde passou por uma depressão severa ao se ver em um ambiente desconhecido e sem perspectivas, cuidando de um bebê de três meses e de dois filhos adolescentes. Foi nesse contexto que ela percebeu o potencial transformador dos pneus descartados, que acumulavam água e contribuíam para problemas de saúde pública. A partir daí, Dercilane deu início a uma trajetória de reinvenção pessoal, dedicando-se ao artesanato como terapia e fonte de renda.

Suas obras chamaram atenção em Parauapebas, onde sua casa virou uma espécie de galeria ao ar livre, atraindo olhares de curiosos e ganhando destaque na comunidade local. A visibilidade do seu trabalho gerou oportunidades para compartilhar seus conhecimentos, ensinando outras pessoas em situação de vulnerabilidade a produzirem artesanato e gerarem renda própria. Uma das histórias marcantes foi o pedido de ajuda de uma mãe de seis filhos, que buscava aprender com Dercilane para sustentar sua família.
De volta a Rondon do Pará, em 2021, Descilane se envolveu em projetos que integravam sustentabilidade, solidariedade e criatividade. Entre eles, destaca-se um projeto de reciclagem de móveis, no qual recolhia peças descartadas, restaurava ou transformava, e doava a pessoas necessitadas. Ela acredita firmemente que tudo o que é descartado pode ser reutilizado de forma útil, promovendo impacto positivo no meio ambiente e na sociedade.
Seu maior projeto foi a construção de um parquinho sustentável em uma escola carente de Parauapebas, financiado por universitários que se encantaram com sua arte. Durante dois meses de trabalho intensivo, Dercilane conseguiu transformar materiais descartados em um espaço de lazer para crianças, consolidando sua habilidade em realizar grandes feitos com recursos limitados. Esse trabalho abriu portas para outros projetos, como esculturas e peças decorativas que encantaram a comunidade.
Apesar do reconhecimento, Dercilane enfrenta inúmeros desafios, como a falta de apoio financeiro e institucional. Sua produção foi paralisada a 5 meses devido ao roubo de seus maquinários essenciais. A ausência de recursos afetou sua saúde física e emocional, uma vez que o artesanato não é apenas sua fonte de renda, mas também sua válvula de escape para lidar com condições como hipertensão e diabetes. A artesã também enfrenta a politização de sua arte, recusando-se a associar seu trabalho a partidos políticos. Para ela, o artesanato pertence à comunidade e não deve ser usado como ferramenta de propaganda. Sua dedicação à sustentabilidade é guiada por três pilares fundamentais: o impacto econômico, social e ambiental, os quais ela luta para integrar em seus projetos, mesmo com recursos limitados.
Dercilane acredita que o artesanato tem o poder de transformar vidas, integrar pessoas na sociedade e reduzir os impactos ambientais. Seu lema é perseverar, independentemente das dificuldades. Aos que desejam seguir o mesmo caminho, ela aconselha: “Desistir jamais! Ame o que você faz e não deixe que as dificuldades apaguem sua paixão pela arte.” Com sua trajetória inspiradora, Dercilane Santos é um exemplo de resiliência, criatividade e compromisso com a sustentabilidade.