
Por Bruno Matias
Joselene da Silva, conhecida como “Dudu”, de 49 anos, nasceu no município de Abel Figueredo, mas, ainda na infância, sua família mudou-se para Rondon do Pará. Filha dos imigrantes Sebastião Monteiro e Jacira Maria, seus pais vieram em busca de melhores oportunidades, sonhando em encontrar a sorte; no entanto, essa sorte não chegou, e eles enfrentaram muitas dificuldades e necessidades no reinício de suas jornadas em uma nova casa.
De uma família muito humilde, as chances de Joselene romper o ciclo de pobreza e construir um futuro diferente era difícil. Naquela época, as meninas eram educadas para servir ao lar, e as expectativas sociais restringiam suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional. Contudo, mesmo diante de tantas adversidades e limitações impostas pelo contexto em que vivia, a jovem conhecida como “Dudu” não permitiu que esses obstáculos a impedissem de buscar melhoria para sua vida.
“Somos sete irmãos, só eu sou do sexo feminino e a mais nova da turma. E quando foi para eu estudar, meu pai disse que não precisava estudar porque mulher não precisava estudar, porque mulher ficou para cuidar de casa e dos filhos. E com muita luta eu pedi para minha mãe, ela me colocou na escola, e eu comecei a trabalhar em casa de família para conseguir material, muitas das vezes usado, e uniforme usado também para poder ir à escola”, detalha.

Desde cedo, a menina “Dudu” demonstrou uma determinação notável e um desejo insaciável de ser professora. A trajetória de Joselene da Silva é um testemunho da força do espírito humano e da importância da educação como um instrumento de transformação social. Sua história inspira aqueles que acreditam que, apesar das adversidades, é possível construir um futuro melhor através da educação. No seu primeiro dia de aula, Dudu via o carinho que suas professoras tinham com as crianças de sua idade, o modo como elas explicavam os assuntos, e isso marcou sua infância. Naquele momento, em sua pequena mente, o sonho de ser educadora nascia, mas as barreiras que ela iria percorrer não seriam fáceis.
“Inspirado na minha professora da primeira série, hoje eu sou a professora que eu sou, porque eu achava muito lindo. Então, assim, foi com muita luta, com muito sacrifício. Quando foi para estudar, eu falava que queria ser professora, e muitas pessoas falaram para mim que filho de pobre não vira professor porque não tem condições de pagar uma faculdade. Dos sete irmãos, eu sou a única formada; hoje sou pedagoga com pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), autismo, sou formada também em psicopedagogia e neuropsicopedagogia. Então, assim, hoje eu sou exemplo para mim, pois foi com muita luta, com muito sacrifício que consegui realizar meu sonho de ser professora”, relata Duda com orgulho sua história.
Depois de concluir sua formação acadêmica, Joselene começou a lecionar nas escolas do município de Rondon do Pará. Em sua primeira experiência como professora, ela recebeu uma turma composta por 32 crianças, das quais cinco eram crianças com deficiência. Diante da diversidade de aprendizados e das particularidades que cada uma dessas crianças apresentava, ficou evidente para ela a necessidade de se aprofundar em estratégias pedagógicas que pudessem atender a essa demanda específica. Essa nova responsabilidade não a intimidou; pelo contrário, despertou um desejo de adquirir conhecimentos e habilidades que a capacitaram a oferecer um ambiente de aprendizado mais acolhedor e eficaz. Essa experiência inicial não apenas moldou sua carreira como educadora, mas também a inspirou a se tornar uma defensora da educação inclusiva, dedicando-se a promover um ambiente escolar que respeitasse e atendesse às necessidades de todos os alunos, independentemente de suas particularidades.
“Eu não poderia recusar o contrato, e os professores efetivos não aceitavam porque diziam que não sabiam lidar com o fato da criança com necessidades especiais. E vendo esse descaso com essas crianças, eu resolvi me profissionalizar dentro da área, e eu fui adquirindo gosto; fui chamada para ser coordenadora da APAE por um bom tempo, e lá eu vi a necessidade de ter um professor com um olhar mais crítico, um olhar mais humano, um olhar mais acolhedor. Então, hoje eu tenho quatro pós-graduações em cima da área, e, em nome de Jesus, eu quero chegar a um mestrado. Então, assim, que possamos ser mais humanos, digamos, um olhar mais generoso, mais humano, menos crítico, porque hoje em dia a sociedade é muito crítica, né?”, finaliza Dudu.