
Por Thays Torres
“Não tive infância, nem juventude, só trabalhei muito”, afirma Ercília Rosa da Cruz, aos 77 anos. Nascida em 31 de julho de 1948, em Almenara, Minas Gerais, aos cinco anos perdeu sua mãe e, em um período que para muitos é marcado por belas memórias, para ela foi marcado pelo sofrimento. Por conta disso, precisou abdicar da própria infância para cuidar dos quatro irmãos mais novos. Algum tempo depois, mudou-se para a Bahia, onde se casou aos 15 anos.
Na época, estudar não era uma opção para muitas mulheres. “Achavam que as meninas só iam para a escola para namorar. Meu pai não me deixou estudar”, relembra. Ela só aprendeu a escrever o próprio nome depois de ter filhos.
Ao falar sobre os filhos, seus olhos brilham e um sorriso surge naturalmente. Para ela, eles são sua maior realização. “Eu pensei que poderia criá-los, e eu consegui.” No ventre, gerou sete filhos, mas seu coração e sua casa sempre tiveram espaço para mais. Adotou um casal de crianças ainda pequenos e os criou como se fossem de sangue. “Tenho muito orgulho da minha filha, ela fez faculdade e se formou, e isso marcou minha vida”, destaca ao falar da filha adotiva. Dona Ercília diz que todos os seus filhos tiveram a oportunidade de frequentar a escola, e ela trabalhou muito para contribuir na educação deles e dar a oportunidade que não teve.

Essa parte da história, no entanto, não se desenrolou apenas na Bahia. Em 1975, embarcou com a família rumo a Rondon do Pará – uma viagem desafiadora, bem diferente das de hoje. Segundo ela, foram cinco longos dias em um pau de arara, juntamente com outras três famílias. Ao chegar em Rondon, encontrou uma cidade pequena, onde o acesso à água era difícil e apenas algumas casas tinham energia elétrica.
Durante boa parte da vida, Ercília trabalhou duro – na roça, na feira, em serviços domésticos. Hoje, aos 77 anos, tornou-se empreendedora: vende cosméticos, tem um brechó e é dona de algumas kitnets. Cercada por filhos, netos e noras, sente-se satisfeita: “Sou feliz. Mesmo com as enfermidades que eu tenho, sou grata por essa dádiva. Nunca pensei que chegaria até aqui. Agradeço muito a Deus por ver meus filhos crescerem e se casarem, por poder ver meus netos e bisnetos. Não tenho do que reclamar, sou muito feliz” finaliza.