
Por Elisângela Cangussu
Lino Pereira, de 72 anos, natural de Caruaru, Pernambuco, é um respeitado feirante e produtor de remédios naturais em Rondon do Pará, onde se estabeleceu há mais de trinta anos. Seu ponto comercial está localizado no coração do Mercado Municipal, conhecido como a Casa das Raízes. O local é reconhecido pelo aroma inconfundível das ervas medicinais. Seu Lino oferece, em seu estabelecimento, uma variedade de especiarias, incluindo folhas secas, cascas de árvores, óleos e sementes de plantas que vêm do Ceará, Bahia e Maranhão, onde são cuidadosamente preparadas, com os nomes e a função de cada uma, para a produção de chás e garrafadas.

Além de vender suas especiarias, o Senhor Lino também produz garrafadas por encomenda, uma prática que combina sua habilidade com a tradição popular de medicina natural, que ele aprendeu ainda criança, observando a mãe preparar as garrafadas. Ele conta que sua mãe fazia e ele observava, e assim passou a conhecer os benefícios de cada planta medicinal. Quando jovem, passou a exercer o ofício da mãe. O Senhor Lino é bem conhecido em Rondon, e muitos clientes antigos e confiantes buscam suas soluções para diversas condições de saúde. Entre os remédios mais procurados estão as combinações à base da folha de Pau Tenente, Barbatimão e Boldo do Chile para o tratamento gastrointestinal, enquanto a sua garrafada de aroeira é buscada pela clientela feminina, por ser famosa por suas propriedades anti-inflamatórias e cicatrizantes.
Mas o Senhor Lino lamenta que, nos últimos anos, a procura por seus remédios naturais tenha diminuído, correndo o risco até de sua extinção. Ele percebeu a transição nas preferências dos consumidores, que agora optam por seguir os vídeos de receitas caseiras pelas plataformas digitais e também estão preferindo cápsulas de produtos industrializados, que são mais fáceis de consumir. E isso, infelizmente, causa uma perda dos benefícios do tratamento natural, diretamente das fontes, lamenta ele. Mesmo com a mudança no mercado, o Senhor Lino não perde as esperanças de continuar oferecendo o tratamento através da medicina natural, pois, para ele, suas práticas não são apenas um meio de sustento — uma vez que ele já está aposentado — mas sim uma forma de preservar o conhecimento que foi passado de geração em geração, mantendo a conexão com a natureza e o cuidado com a saúde. Isso porque essa rica tradição ancestral está se perdendo no meio da sociedade moderna, que está cada vez mais em busca de facilidade para o dia a dia.