
Por Kauã Fhillipe
A história e o desenvolvimento de Rondon do Pará passaram, ao longo dos anos, por diversas pessoas que ajudaram a cidade a ser o que é hoje. Essas pessoas, que saíram de suas terras oriundas de todo o país, viram aqui uma nova oportunidade de vida, prosperidade e recomeço. Entre elas, estava um jovem adulto de 22 anos que viu, na então terra desconhecida, uma oportunidade de emprego. Mas mal sabia ele que esse pequeno trabalho o faria um grande personagem do município rondonense. Essa é a história de Roseval Marcelino de Góes, mais conhecido como Seu Tesoura.
Natural de Ilhéus-BA, Roseval não achava emprego de seu ofício de pedreiro em sua cidade natal e foi chamado para trabalhar na construção do cinema de Rondon em 1972 – mais precisamente no dia 3 de fevereiro – e recorda com orgulho que ainda se lembra de quantos tijolos foram necessários para a base da obra: “8 mil tijolinhos que vieram de Imperatriz!”. Além da construção do antigo cinema, Seu Tesoura (apelido esse dado porque em Ilhéus poucos pedreiros conseguiam fazer tesoura de telhado em casas e, como ele era especialista nisso, ganhou esse nome) também ajudou na construção de várias casas e prédios daqui da cidade, além de ter ajudado no levantamento da igreja católica na zona rural e da rodoviária municipal.
Veio com a esposa e, até então, seus dois filhos para o Pará e, quando se estabeleceu, priorizou a educação agora dos 7 filhos, mandando-os para estudarem fora ou pagando uma professora particular que vinha do Maranhão. Seu Tesoura conta também que educou seus netos e lhes deu apoio quando saíram de Rondon para fazer faculdades em outras cidades – um deles acabou de se formar em Direito, em Belo Horizonte.

Com a trajetória, vêm grandes histórias que são contadas por ele ao longo dos anos. Seu Tesoura narra várias delas das quais passou na juventude. No começo de tudo, quando Rondon nem era Rondon ainda, disse que já dormiu no mato, em cemitério ou em qualquer lugar que lhe cabia, quando as pousadas estavam todas lotadas. Nessas dormidas no relento, Seu Roseval já fugiu de muitos bichos, como cobras, onças e outros animais peçonhentos: “A cobra era grande e, quando passou por cima de mim, prendi o fôlego e só soltei quando ela terminou de passar. Quando estava só com o rabo em cima, eu corri para longe”.
É um dos primeiros moradores da Rua Scilia Médici, residindo nela há mais de 30 anos. Hoje, aos 78 anos, se diz satisfeito por fazer parte da história de Rondon do Pará. Perguntado sobre como enxerga a cidade daqui a alguns anos, ele espera que o município prospere, cresça e que se torne referência no estado do Pará. Pioneiros como o Seu Tesoura nos ajudam a conhecer a história de uma cidade, de todo o seu processo de crescimento e nos dão um parâmetro do que Rondon foi, é e ainda será daqui para frente.