
Por Luciene Ferreira
Corpo e alma se movimentam quando a música toca. Essa é a melhor forma de descrever Valquíria de Souza de Oliveira, uma das dançarinas da quadrilha junina Pé-rapado. Ela conta que desde a sua infância já sentia que tinha uma relação com a dança. Sua mãe foi quem sempre a incentivou arrumando Valquíria com os vestidos de chita, laços na cabeça e rosto pintado para as quadrilhas juninas da escola, foi a partir daí que começou sua história de vida nessa tradição folclórica.
O que ela não sabia é que na rua onde cresceu e vive até hoje, se tornaria palco da quadrilha junina dos pé-rapado, a tradicional dança da festa de São João e parte da cultura rondonense. Na porta de sua casa, os destinos se encontraram e Valquíria se deixou levar pelo embalo da dança.
A quadrilha os ‘pé-rapado da caixa d’água’ iniciou no dia 23/06/2006, quando os moradores da rua Cesar Brasil resolveram se reunir para dançar quadrilha na rua, e com uma grande mobilização comecou a história e formação do grupo que se tornou patrimônio cultural de Rondon do Pará. Ruas enfeitadas, dançarinos com roupas coloridas e chapéu de palha se aglomeram e dançam aos gritos do animador e das músicas nordestinas. Os sabores da comida típica junina se misturam aos embalos dos pés batendo no chão.

Valquíria conta que com quatorze anos iniciou sua trajetória oficial na quadrilha junina e essa participação foi muito importante para seu crescimento pessoal, pois manter a disciplina de ensaios e preparação lhe ensinou que na vida é preciso ter compromisso e responsabilidade. É como a música que se conecta com o ritmo, coreografia, e vai seguindo o compasso criando harmonia entre si.
Há dez anos percebeu que poderia ir além, por isso ela decidiu fazer parte da coordenação do grupo para ajudar na preparação e organização da quadrilha junina, pois é nesse meio que ela se realiza e é feliz. Como ela diz: “a quadrilha junina de rua fortalece os vínculos da vizinhança, movimenta a cidade e traz alegria.”
Uma das prioridades é não deixar a tradição folclórica morrer, por ser uma das festas mais populares do Brasil. Valquíria espera que a quadrilha junina permaneça firme e de pé-no-chão, mantendo a cultura folclórica viva aqui na cidade. A maior dificuldade que ela enfrenta é a falta de apoio da comunidade na questão de patrocínios, mas, mesmo assim, a quadrilha movimenta o comércio local.
Estar nessa linha de frente do grupo a fez crescer como cidadã, pois saber lidar com as situações quando alguma coisa sai do controle é sempre desafiador, e conseguir manter a calma foi um dos ensinamentos que a direção lhe trouxe: “A maior gratificação é ver a rua se transformar num lindo cenário colorido para as pessoas se encontrarem, dançarem, socializarem e se divertirem”, comenta Valquíria com muita satisfação. Valquíria declara que apesar do árduo trabalho, a sua paixão e amor pela dança fazem o serviço ficar mais leve. O poder da conexão da quadrilha junina com o povo, tornando-se uma grande celebração do povo e da cultura, mantém acessa a chama do seu coração e a arte viva na rua da cidade, na famosa caixa d’água em Rondon do Pará.