Não é à toa que, segundo estudos realizados por Data Folha, indicam que 7% da população brasileira acredita piamente que a terra é plana, ou seja, aproximadamente onze milhões de brasileiros. Pode, Freud? Como se não bastasse, a mesma pesquisa referendou que um quarto da nação desconfia que Neil Armstrong e Buzz Aldrin não caminharam na Lua em 20 de julho de 1969. Cá pra nós: é ter um espírito bem bolsomínimo, tanto lá como cá.
Sendo assim, cabe pontuar que o espírito da Nova Era Medieval que paira sobre a nação tupiniquim não se observa apenas quando se trata do sabor astronômico; antes, porém, quando se trata do mundo das Letras, como ficou provado nesta última edição da Flip em Paraty, quando da realização de mesa redonda em que esteve Glenn Greenwald, palestrante do jornalismo investigativo, que na oportunidade fora alvo de protesto de apoiadores do ex-juiz Sergio Moro – dezenas de pessoas com bandeiras verdes e amarelas, representando, assim, mais um sete a um bolsominiano, apresentando rojões e equipamento sonoros, em volume alto, a fim de impedir que o Estado Democrático de Direito fosse reservado durante o evento. Cá pra nós: estamos ou não estamos na Nova Era Medieval? Que tristeza!
Como o espírito bolsonariano é avesso ao mundo das Letras, bem como Filosofia e Sociologia, a bola da vez foi a jornalista Miriam Leitão, que na hora H foi desconvidada pela organização da 13ª Feira do Livro em Jaraguá do Sul, Santa Catarina, após uma manifestação que contou com assinaturas de 3.050 bolsomínimos, que repudiaram a presença da escritora “por seu viés ideológico e posicionamento, a população jaraguaense repudia sua presença, requerendo, assim que a mesma não se faça presente em evento tão importante em nossa cidade”. Além de Miriam Leitão, que recebeu o seguinte comunicado do coordenador do evento, por sinal, um bundão, “tenho vergonha de dizer à Miriam Leitão que não tenho como garantir sua segurança”, também o sociólogo Sérgio Abranches foi desconvidado da festa literária. Que país é este?
Por essas e outras peripécias da Nova Era Medieval, ficamos por aqui, deixando bem claro que “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, como bem escreveu durante a Ditadura Militar, Chico Buarque, e assim, como um eterno retorno de Nietzsche, “quando chegar o momento, esse meu sofrimento, vou cobrar com juros. Juro! Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro”. Mas uma coisa é certa: o Brasil vai pagar bem caro no futuro por tanto espírito medieval em pleno século vinte e um. Valei-me, Deus!
Robson Luiz Veiga é professor de Língua Portuguesa e Literatura nas redes estadual e municipal de ensino. Formado em Letras pela UFPA. Mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC Goiás.