Por Kawane Ricarto
A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Rondon do Pará atende 65 crianças com deficiência intelectual e múltipla. Além de prestar serviços a estas pessoas, também são atendidos membros da família que precisem de apoio. Pais, mães e/ou responsáveis são acolhidos pela instituição a partir de acompanhamentos psicológicos e assistências terapêuticas.
De acordo com a psicóloga da APAE, Luana Cabette Sanches, os atendimentos acontecem em grupo e individualmente. A reunião do grupo de mães, que existe há quatro anos, é realizada todas as sextas-feiras e dura uma hora. São abordados temas que estimulam a discussão entre elas, para que compartilhem as dificuldades e troquem experiências. Elas relatam as dificuldades que acompanham seus cotidianos e, assim, passam para as outras mães dicas de como lidar com o problema. “Temos aqui um grupo mesclado, com mães das crianças de todos os tipos de deficiências, como baixa visão, com paralisia, retardo, síndrome de Down, entre outros. Ou seja, é uma troca de experiências e sentimentos”, diz a psicóloga. As mães esclarecem ainda que essa socialização de forma “mesclada” é bastante importante, pois elas entram em contato com diversas realidades, e conseguem ter um desenvolvimento maior nas discursões dos temas. Aprendem a ajudar as colegas e a ter um campo de visão maior desses desafios.
No grupo de mães, eles verificam e avaliam as que têm necessidade de acompanhamento. Uma das questões levantadas no grupo é o que a psicóloga chama de “luto do filho perfeito”, que é a fase de aceitação de que a criança é atípica e precisa de cuidados específicos. Quando se detecta algo que esteja atrapalhando o desenvolvimento da criança, a mãe é chamada para um atendimento individual para trabalhar esse problema. No grupo são compartilhadas as questões da vida diária, família, e fatos relacionados à própria mulher, como sua autoestima, pois ela, muitas vezes, deixa de se cuidar no momento em que tem um filho especial. As mães são estimuladas a dar autonomia para eles, com o intuito de fazê-las acreditarem no potencial deles. “E eu sempre digo para elas soltarem as mãos de seus filhos e os deixarem ir, pois isso é um grande entrave das mães principalmente de crianças com deficiência. Os extintos maternos as fazem sempre querer protegê-los, e esse é o trabalho que mais temos aqui com as mães, para que suas crianças tenham autonomia e se tornem adultos funcionais, independentes”, completa Luana.
Para Ana Paula Cruz, bióloga, o acompanhamento que elas recebem pela APAE é essencial, pois a pscicóloga, por conhecer todas as dificuldades de seus filhos, acaba percebendo quando há algo de errado nos seus desenvolvimentos em casa, pois o convívio que as crianças teem com suas famílias, é excepcional para os seus crescimentos. Ana Paula diz: “O atendimento é multidisciplinar, pois abrange diversas questões, e por meio dele, a psicóloga tenta nos ajudar, com o intuito de que as crianças tenham um resultado esperado e sejam auxiliadas da forma correta, e assim seu trabalho é mais valorizado e bem visto pela socieade”. Para a Francisca Sousa, dona de casa, essas reuniões a ajudaram bastante, pois ela sempre percebe melhorias em sua vida, e muitas vezes ao frenquentar as reuniões, acaba por esquecer os seus problemas. Alessandra Costa, também dona de casa, encontra apoio, amor e é bem acolhida por todos dentro da Associação, e ela sempre percebe a grande evolução no desenvolvimento de sua filha. “Caso haja regressão em algum comportamento da minha filha, eu tenho acompanhamento com a Luana e trabalho da forma certa as questões que ela está tendo dificuldades, através do acompanhamento”, ela diz.
O grupo ainda desenvolve uma atividade interna, iniciada em janeiro desse ano, com uma projeção de metas e incentivos. A psicóloga trabalha algumas dificuldades das mães, e o resultado dessa atividade trouxe muitas evoluções no comportamento delas. “Aqui é onde as mães gritam, choram, dão sorrisos, onde tudo acontece, pois a APAE não envolve apenas o usuário, ela é uma família e as mães fazem parte da família Apaiana. Não atendemos apenas a criança, atendemos a família, pois é impossível desvincular os dois”, relata a psicóloga.
Nem todas as APAEs apresentam esse atendimento como alternativa para melhorar o desenvolvimento das crianças. Ana Paula relata que o atendimento na APAE de Rondon é diferenciado de outros lugares que seu filho teve acompanhamento. Segundo ela, todo o processo que ocorre na Associação da cidade é excelente, por abordarem serviços também aos familiares, como o clube das mães e o grupo da família, que não é considerado algo obrigatório, mas é essencial. Para que todas essas ações tenham bons resultados e ganhem cada vez mais visibilidade, é preciso que os profissionais atendam de forma correta, as necessidades presententes nos locais. “O profissional da APAE precisa ter o perfil Apaiano, não pode ser qualquer profissional, e nós estamos sempre como profissionais, atualizando, correndo atrás e buscando novos métodos para melhorar o resultado de nossas crianças e mães”, relata a psicóloga.
A APAE de Rondon ainda realiza algumas ações, com o intuito de realmente ajudar a família da criança que apresenta alguma deficiência. Como é o caso da mãe Joana Mourão, que perdeu seu filho há sete meses. Ele era autista, e quando recebia atendimento, ela também frequentava as reuniões de mães e tinha o acompanhamento com a pscicóloga. Mas, mesmo depois da morte de seu filho, ela continua a frequentar o clube de mães e reuniões com a profissional, “Eu continuei recebendo muita ajuda, pois a APAE não me abandonou, tenho o acompanhamento psicológico, pois isso é algo fundamental na vida de alguém. Todas as mães me acompanharam naquele momento muito difícil, pois somos uma família, faço parte da família Apaiana”. Joana ainda foi contratada pela APAE quatro meses após o incidente com o seu filho para trabalhar nos serviços gerais.
A APAE de Rondon do Pará, que foi fundada no dia 20 de junho de 1999 e teve seu prédio inaugurado em 2013, se localiza no bairro Novo Horizonte, na Rua Adão dos Reais, número 2901. Antes da sua inauguração não ocorriam atendimentos com a equipe multiprofissional, existia apenas uma sala pequena para a realização das atividades e acontecia somente o encaminhamento direto para os profissionais, como médicos e dentistas. Após a abertura do prédio, as atividades realizadas na instituição passaram a ser mais elaboradas e específicas.
De acordo com a coordenadora da APAE, Angela Maria Raimam, uma das exigências do local é o limite de idade de acolhimento das crianças. Deve-se então acolher crianças de zero a seis anos, pois elas têm possibilidades maiores de reverterem seus quadros, ao contrário das pessoas que já tem a parte neurológica afetada e que não tiveram acompanhamento desde cedo. Angela diz que hoje existem pessoas na APAE que não se encaixam nos critérios necessários para receberem atendimentos, isso ocorre especificamente porque esses casos entraram na instituição quando não havia burocracias no processo e não seguiam todas as regras para o funcionamento.