Por Lucas Guilherme, João Carlos Oliveira e Juraci Denoni
As escolas paraenses estão com atividades presenciais suspensas desde o dia 18 de março como forma de prevenção à pandemia do Covid-19. Em Rondon do Pará não foi diferente. Com o isolamento social, a rotina das aulas teve que ser modificado. Professores foram surpreendidos, tiveram que se adaptar ao trabalho remoto e as dificuldades apareceram. Para a professora Fabiane de Souza Rodrigues, que trabalha na rede municipal, foi um desafio. “Não estávamos preparados para essa nova modalidade de ensino, no caso on-line. O desafio maior é que nem todos os alunos têm acesso a internet ou precisam dividir o celular com os pais e os irmãos, já que a maioria não dispõe de computador”.
Sem perspectiva de volta, algumas escolas optaram pelas aulas on-line com envio de atividades do conteúdo programado para que os alunos não ficassem parados. Muitos professores tiveram que trabalhar ao mesmo tempo que buscavam formação ou aprimoravam seus conhecimentos no uso das mídias digitais. Também os alunos precisaram se adaptar ao novo formato. Isso desencadeou uma sobrecarga de trabalho, segundo o professor Soélio Barros. “Antes da pandemia até gostava de terminar meu trabalho em casa, o que não conseguia fazer na escola. Porém tudo mudou depois do vírus, pois o serviço aumentou. Uma turma de 40 alunos que era atendida toda ao mesmo tempo passou a ter atendimento individual. Aumentou, assim, a responsabilidade de continuar um trabalho de formiguinha para garantir o compromisso com o ensino e aprendizagem dos alunos. ”
A escola D. Pedro I, assim como as demais escolas municipais, vem seguindo a resolução número 002/2020 do CME (Conselho Municipal de Educação), considerando as implicações da pandemia no calendário escolar. Com a suspensão das aulas, foi necessário estabelecer um regime especial não presencial. Para atender as demandas, a Secretaria Municipal de Educação está desenvolvendo as seguintes ações para serem aplicadas nas escolas do município:
1- Planejamento das atividades pedagógicas e administrativas a serem desenvolvidas durante o período de pandemia, com o objetivo de viabilizar material de estudo e aprendizagem de fácil acesso aos alunos e aos pais. Os materiais preparados são específicos para cada etapa e modalidade de ensino. As atividades planejadas para serem desenvolvidas nesse período de isolamento social foram as seguintes: vídeo-aulas, conteúdos organizados em plataformas virtuais de ensino aprendizagem, apostilas, direcionamento de aulas através do livro didático, dentre outras.
2- Registro da frequência dos alunos por meio de relatórios e acompanhamento das atividades propostas.
3- Planejamento de avaliação dos conteúdos ministrados nas aulas não presenciais para serem aplicados no retorno das aulas presenciais.
4- Registro das atividades realizadas para certificação dos alunos, bem como comprovação de estudos realizados.
Para os alunos que não têm acesso à internet ou moram na zona rural, a escola está imprimindo as atividades. Mas há alguns alunos que não conseguem fazer as tarefas propostas pelos professores devido ao fato de estarem incomunicáveis. Muitos números de telefone estão bloqueados, ou foram trocados e não foram atualizados na ficha de matrícula dos alunos. A diretora da escola D. Pedro I, Cleude Martins, diz que esse é um período atípico mas que todos os esforços estão sendo empregados. “As estratégias de ensino remoto, por mais importantes que sejam, tem suas desvantagens. E se essa situação persistir até o fim do ano, continuaremos com as atividades planejadas que são muito significativas e nos permitirão a continuação das aulas on-line, e assim minimizaremos os efeitos na educação, reduzindo os impactos negativos na aprendizagem dos alunos”.
Na prática, o ensino à distância teve muitas complicações para os alunos. Natalha Frances, mãe de três alunos da escola Professor Francisco Nunes, relata que nesse período sem aulas presenciais a maior dificuldade é continuar mantendo uma rotina de estudos. As filhas que cursam o segundo e o terceiro ano do ensino fundamental têm recebido apostilas com atividades avaliativas. Quando terminam essas atividades, retornam à escola para trocar por outras. Já o filho, que faz o sétimo ano, recebe atividades em formato digital e indicações de tarefas nos livros didáticos, além de vídeo-aulas no YouTube. Para Natalha, a pior dificuldade é manter a internet para os filhos estudarem e não deixar as atividades acumularem. “Em um período entre abril e maio, fiquei sem internet no celular e houve um acúmulo de tarefas. Quando eu consegui por internet no celular, recebi mensagens de todos os professores me cobrando as atividades que estavam acumuladas. Nem sempre temos internet”. Ela conta que, apesar dos professores mostrarem persistência e vontade, os alunos não estão conseguindo evoluir o suficiente porque não receberam nem a metade do conteúdo que teriam normalmente. Caso as aulas voltem em agosto, ela diz ter medo de mandar os filhos para escola. “Eu não tenho confiança em mandar meus filhos para a escola. Também gostaria de saber o que vem sendo feito para melhorar o atual modelo de ensino. Meu filho tem um colega que não tem nenhum acesso à internet e não fez nenhuma atividade desde a paralização. Infelizmente nem todos têm acesso à internet”.
Outra dificuldade que surgiu com a pandemia foi em relação à merenda escolar. Muitos alunos tinham a merenda escolar como a melhor refeição do dia. Durante as suspensões das aulas, a Secretaria de Educação (Seduc) juntamente com o Governo do Estado disponibilizaram o vale-alimentação para atendimento das necessidades dos estudantes. Segundo o aluno Lucas Araújo, do primeiro ano da escola Dioniso, foi uma importante ajuda. “Eu recebi o vale no valor de R$ 80,00. Serviu para mim, mas graças a Deus aqui em casa nós temos o que comer todos os dias”.
Dionísio
A escola Dioniso Bentes de Carvalho tem 1.451 alunos mas nem todos com acesso à internet. Cerca de 164 alunos são da zona rural. A Constituição e a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) diz que os direitos devem ser iguais para todos. Mas as aulas remotas na única escola pública de ensino médio do município não possibilitam que todos tenham acesso. A orientação é que a escola siga a normativa do Conselho Estadual, que segue o Conselho Federal de Educação, na qual se decidiu por não cobrar os 200 dias letivos, mas as 800 horas/aula. Embora o retorno estivesse sendo planejado para o dia 3 de agosto, o governo do Pará confirmou a suspensão por mais tempo, tendo em vista o gráfico epidemiológico no estado. A nova avaliação será feita no dia 15 de agosto. Em Rondon a situação ainda é muito delicada já que o número de óbitos e de contaminados vem aumentando. O segundo semestre será planejado priorizando os conteúdos essenciais para que os alunos do primeiro e segundo ano avancem de série, e para que os alunos do terceiro ano realizem o Exame Nacional do Ensino Média (Enem).
Com relação às medidas de prevenção, a orientação inicial do estado era para o retorno em julho, garantindo 25% da quantidade de alunos (fazendo um rodízio por dia, por exemplo: 25% de uma turma hoje, 25% da mesma turma amanhã, até completar os 100%). Mas a escola Dionísio, de grande porte, tem 40 alunos em cada sala. No turno da tarde seria possível, pois existem salas disponíveis, assim como no turno da noite. Mas no turno da manhã, com 600 alunos, não haveria espaços disponíveis. A Secretaria de Educação (Seduc) também solicitou uma planilha com laudos médicos dos alunos que tenham comorbidades.
Enem
Os estudantes aptos para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2020 já esperavam ansiosos pela data. As provas serão realizadas nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021 (versão impressa) e nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021 (versão digital). Mas com a preparação para o Exame adaptada para novos formatos on-line, os estudantes ficaram apreensivos. Muitos não tem um ambiente adequado para estudar ou acesso à internet. O estudante Yan Andrade, do terceiro ano da escola Dionísio Bentes, diz estar preocupado e chegou a pensar em desistir de fazer o Enem. “Eu não tenho acesso às vídeo-aulas porque não tenho Wi-Fi em casa. Achei positivo o adiamento do Enem porque muitos estudantes seriam prejudicados. Nas escolas particulares os alunos têm acesso à internet, mas essa não é a realidade de muitas pessoas, principalmente dos alunos das escolas públicas que estão sem aulas” . Outra estudante do Dionísio, Carla Reis, também diz estar com dificuldade de estudar sozinha. “Nas aulas presenciais estudamos todo o conteúdo do Enem e isso ajuda muitos alunos. As aulas em casa estão funcionando, mas alguns têm dificuldade para entender a matéria e até mesmo para acessar as aulas”.
Segundo a diretora da escola Dionísio Bentes de Carvalho, Adriana Andrade, a pandemia aumentou a desigualdade para aqueles alunos que vão fazer o Enem. Os que têm o acesso à internet, o hábito e bons ambientes de estudo estão em vantagem mas essa não é a realidade da maioria. “A desigualdade já existe. A diferença de bens de consumo impede que uma maioria obtenha sucesso. Se todos tivessem condições iguais a disputa não seria tão desleal. Além disso, são muitas as incertezas para esse ano ”.