Ao longo do mês de setembro, possivelmente você tenha visto um engajamento em favor dos cuidados que devemos ter com a saúde mental de forma individual e coletiva. Mas você conhece a história por trás do “Setembro Amarelo”? Já ouviu falar da lamentável estatística do suicídio? É sobre essa temática que falaremos hoje.
A origem desta campanha de conscientização contra o suicídio surgiu nos Estados Unidos, inspirada em familiares e amigos do adolescente Mike Emme que cometeu suicídio com apenas 17 anos. Conhecido por uma personalidade dócil e por suas habilidades com mecânica automotiva, o adolescente havia restaurado e pintado de amarelo um veículo modelo Mustang 68. Porém, em 1994, lamentavelmente, sem que ninguém percebesse os sinais, o pior aconteceu.
Seus amigos organizaram durante o funeral cestas e fitas amarelas com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda! ”. Desde então, a ação propagou-se pelo país e muitos jovens passaram a pedir apoio psicológico utilizando cartões amarelos e a fita amarela foi escolhida como símbolo da campanha. A Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio e o amarelo foi a cor escolhida para a campanha.
A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID10), considera como autoprovocadas as lesões e os envenenamentos intencionalmente desferidos pela própria pessoa a si mesma, podendo ser manifestada por comportamento suicida ou autoagressão, que inclui automutilação, de formas mais leves como arranhaduras, cortes e mordidas, até as mais severas como amputação de membros.
No mundo, 79% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda, porém a maior taxa se concentra nos países de baixa renda: 11,5/100.000 habitantes. É a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos. Entre os anos de 2011 a 2015, registrou-se 55.649 óbitos por suicídio no Brasil. O Pará, seguido do Amazonas, lidera o número de óbitos por suicídio na região Norte do país. Na capital do Pará foram registradas entre 2015 e 2018 o total de 173 óbitos por suicídio.
A OMS, em Boletim Epidemiológico, relata que quase metade das mortes violentas no mundo decorrem do suicídio e este índice tem aumentado, totalizando um milhão de mortes por ano em todo o planeta. Ressalta-se que o início desse processo começa com a ideação suicida, ou seja, ato em que o indivíduo começa a pensar em não existir mais, tirar a própria vida, planejar a própria morte e desejar morrer. Para cada suicídio consumado, pelo menos outros 20 indivíduos atentam contra a própria vida.
O Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por suicídio no Brasil, realizado pelo Ministério da Saúde (MS), alerta para alta taxa entre idosos com mais de 70 anos e também entre jovens. Quando observada a proporção de óbitos segundo faixa etária e raça/cor da pele, identificou-se que 44,8% dos suicídios ocorreram na população indígena e foram cometido por adolescentes (10 a 19 anos), valor oito vezes maior que o observado entre brancos e negros (5,7% em cada) nesta mesma faixa etária. Em relação à escolaridade, os óbitos em homens diminuem quando aumenta o nível de escolaridade, já com as mulheres ocorre o oposto.
Apesar do conhecimento sobre comportamento suicida ter aumentado muito nas últimas décadas, pesquisas mostram a importância da interação entre fatores biológicos, psicológicos, sociais, ambientais e culturais na determinação do ato. Ao mesmo tempo, a epidemiologia ajudou a identificar muitos riscos e fatores de proteção para o suicídio, tanto na população em geral quanto em grupos vulneráveis.
Assim, embora a relação entre distúrbios suicidas e mentais (em particular, depressão e abuso de álcool) esteja bem estabelecida, vários suicídios ocorrem de forma impulsiva em momento de crise, como um colapso na capacidade de lidar com os estresses da vida, tais como problemas financeiros, términos de relacionamento ou dores crônicas decorrente de doenças.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) afirma que entre os principais instrumentos utilizados para concretização do suicídio estão: ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo, tornando esses os métodos mais comuns de suicídio em todo o mundo. A cada 40 segundos uma vida é ceifada por alguma forma de suicídio, tornando esse evento uma importante preocupação no que tange a saúde pública.
No Brasil, o Ministério da Saúde lançou a Portaria nº 1.876, de 14 de agosto de 2006, que institui Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio a ser implantadas em todas as unidades federadas. Em 2011 pela Portaria nº 3088, foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em 2014 a Portaria nº 1.271, torna as tentativas de suicídio e o suicídio agravos de notificação compulsória imediata em todo o território nacional. Desde 2015 o Ministério da Saúde mantém parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), instituição voltada ao apoio emocional por meio de ligação telefônica para prevenção de suicídios. Em 2017, a parceria foi ampliada, onde foi assinado um novo Acordo de Cooperação Técnica, que prevê a gratuidade das ligações ao CVV em todo o território nacional através do número 188; ainda neste mesmo ano, o MS lançou o Boletim Epidemiológico 2017 e a Agenda de Ações Estratégicas para a Vigilância e Prevenção do Suicídio e Promoção da Saúde no Brasil 2017-2020.
Talvez ao longo da leitura deste texto, você esteja pensando: “Que leitura pesada! ” ou “Quantos dados ruins!”. Na verdade, essa leitura deve nos levar a refletir: temos vivido ou sobrevivido aos dias atuais? Tenho cuidado da minha saúde mental como cuido de outras áreas de minha vida? E a saúde emocional das pessoas do meu convívio, familiares, amigos?
Muitas tem sido as estratégias globais de prevenção ao suicídio, o mês de setembro não deve ser o único momento do ano voltado aos cuidados da saúde mental, é mais uma forma de chamar a atenção para essa importante temática que não é só da saúde, mas um dever social. Esta campanha não visa passar uma mensagem de morte para a sociedade, mas sim de VIDA! Visa informar que para a dor psíquica há um acolhimento, há tratamento e esperança.
Aproveite a última semana do mês de setembro e reflita sobre suas emoções e reações frente as circunstancias da vida. Se necessário, procure ajuda! Lembre-se toda vida tem valor, a SUA vida tem valor!
Sugestão de links para leitura complementar:
https://www.setembroamarelo.com/
https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/6140