Por Kawane Ricarto
O mês de março vai ficar marcado para sempre na vida de Giovanna Abreu Costa, de 33 anos, por muita dor. Ela perdeu cinco pessoas da família para a covid-19. Primeiro foi o irmão Deusdete de Abreu Costa, de 56 anos, no dia 6, e a mãe Joana Mendes de Abreu Costa, de 86 anos, no dia 7. A irmã, Maria Lucinete de Abreu Costa, faleceu com 58 anos no dia 17, o irmão mais novo, Ivan de Abreu costa, de 51 anos, no dia 28, e o pai Raimundo da Rocha costa, com 83 anos, no dia 30.
Giovanna diz que todos moravam perto um do outro, faziam as refeições juntos e a união definia a família. As mortes ocorreram de forma acelerada e avassaladora. Segundo ela, o irmão Deusdete foi ao postinho municipal fazer um exame e, pouco depois do seu retorno, surgiram os sintomas do novo coronavírus. Ele desconfiou, não foi ao hospital e logo se isolou, mas com a proximidade frequente com os outros parentes, logo todos contraíram o vírus. A situação de Deusdete se agravou. “Chamei pra ir ao hospital, e ele foi internado pela manhã, às 9h. Quando deu 5h40 do outro dia ele já estava muito mal, tinha me ligado pedindo para eu ir até lá e quando cheguei já tinha vindo a óbito. Foi muito rápido, ele saiu de casa conversando, ficou no hospital só um dia e uma noite, no outro não resistiu mais.”
Deusdete faleceu em um sábado e logo no outro dia a mãe partiu também. Giovanna diz que sua mãe era acamada há mais de 10 anos e ao contrair o vírus não teve sintomas graves, apenas febre e falta de apetite. Não reclamava de dor e estava tomando todos os medicamentos receitados, já que fazia parte do grupo de risco para agravamento da doença. Giovanna diz que ela passou o dia inteiro conversando e à noite, quando foi dar banho na mãe, ela já havia falecido.
Giovanna e a irmã Maria Lucinete moravam juntas em uma casa em frente aos pais e, com o contato frequente com eles, também contraíram o vírus. Giovanna relata que teve alguns sintomas como dores de cabeça e nas costas e até hoje carrega sequelas da doença. A irmã foi encaminhada para Marabá pelo agravamento dos sintomas e por ter plano de saúde. Ela ficou alguns dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e seu quadro clínico era estável. Os médicos falaram que estavam felizes com a melhora dela e toda a família também ficou. Mas, completando 15 dias de internação ela faleceu. Giovanna optou por não comentar nada com o pai e o irmão Ivan sobre a morte de Maria, para não complicar o caso deles pois estavam internados no Hospital Municipal em Rondon. Todos os dias os médicos ligavam para passar o estado em que eles se encontravam e davam notícias boas. “É isso o que não entendemos, meu irmão estava tendo melhora no quadro, já estava respirando melhor, mas de repente vieram os agravantes da doença e faleceu na madrugada do dia 28”. O pai veio a óbito dois dias depois.
Em meio a tanta dor e saudades de sua querida família, Giovanna alerta a população para que fiquem em casa, tomem todos os cuidados possíveis e saiam apenas quando for necessário. “A minha família toda é evangélica, não íamos nem para a igreja, só em casa com medo e se protegendo do vírus. E mesmo com todos os cuidados, aconteceu tudo isso, e infelizmente todos eram de risco”.
A covid-19 segue fazendo vítimas em Rondon do Pará. Já são 59 óbitos confirmados na cidade e mais de mil casos, de acordo com Secretaria Municipal de Saúde. Famílias encaram a perda e o luto, sem poderem se despedir de quem amam. Depois de mais de um ano de pandemia, os números que crescem todos os dias mostram que, por trás deles, existem pessoas, existem famílias.