Por Mila Andrade e Vanessa Lopes
A modinha entre jovens e adolescentes tem preocupado os principais ambulatórios de tratamento de tabagismo no Brasil, e a enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde de Rondon do Pará, Larissa dos Anjos, deixa a população sobreaviso.
Os desafios de combate ao tabagismo têm sido cada vez mais intensos nos últimos anos, uma vez que a OMS (Organização Mundial da Saúde) estabelece como epidemia global e doença crônica por dependência de nicotina. Em Rondon do Pará, há profissionais de saúde que alertam sobre a situação, uma vez que cigarro eletrônico tem combinações desconhecidas ou outras capazes de alta dependência. Com a crescente inovação de substâncias oferecidas pelo mercado do tabagismo, há o surgimento de produtos novos. Os dispositivos eletrônicos que atendem e oferecem risco de morte às crianças, adolescentes e aos jovens fazem o SUS reavaliar a vigilância sobre o caso. Por razões sanitárias, a Anvisa proibiu por lei, o produto no país; o que na prática torna a venda, a propagação e a importação, ilegais.
Um a cada cinco jovens de 18 a 24 anos usa o cigarro eletrônico no nosso país, ou seja, um valor que corresponde a 19,7%, segundo relatório da Covitel. O consumo maior está entre os homens de todas as faixas etárias, sendo 10,1% entre eles, contra 4,8% entre as mulheres. Em Rondon do Pará, há uma observação ao fenômeno expressivo de jovens fumantes, que nas festas, de forma generalizada, fazem o uso de cigarros eletrônicos.
Segundo a BBC Brasil, a Nicotina, uma das substâncias perigosas do produto, é subestimada em função da praticidade ao uso desprovido de odor e que abre precedente à dependência. Isso acontece porque ela penetra na corrente sanguínea, chega ao cérebro e, rapidamente, ativa a sensação de bem-estar momentâneo. Para além de um efeito cardiovascular, vai o alerta: aumenta a pressão arterial, acelera os batimentos cardíacos e causa o envelhecimento das artérias – o que pode levar ao infarto; prejudica a memória – em menores o desenvolvimento do próprio cérebro; e até a atenção.
A Enfermeira Larissa dos Anjos atua há 12 anos na rede pública de saúde local, coordenando a vigilância em saúde e seus departamentos. Ela relata a gravidade do problema, na perspectiva cancerígena – ou seja, conjunto de mais de 100 doenças. “O principal problema é o câncer, pois apesar desses dispositivos não conterem substâncias tóxicas liberadas pelo tabaco tradicional, possuem o formaldeído e metais pesados”, enfatiza.
Ela também ponderou que esses metais são liberados, principalmente, pelo aquecimento dos circuitos do cigarro eletrônico. A comparação está em que o cigarro comum possui mais de 200 substâncias tóxicas, enquanto o eletrônico possui um número menor de substâncias, entretanto, o aquecimento dos circuitos para a produção do vapor libera metais pesados e formaldeído na proporção 10 vezes maior que o tabaco tradicional. Apesar da fumaça dos eletrônicos conterem sabor e aroma, a maioria deles pode conter elementos psicoativos em sua composição, como componentes da maconha. A OMS alertou para que fossem feitas as regulamentações severas desses dispositivos, bem como pesquisas e informações acerca dos riscos, que além de catastróficos, são viciantes.
Existem uma infinidade desses dispositivos eletrônicos: pod, e-ciggy, not burn, além do mais conhecido entre os jovens, o narguilé, que possui cachimbo. Os aparelhos funcionam à base de bateria e possuem muitas vezes formato de cigarros, canetas e até pen drives. Apesar dessa alta comercialização e variedade, esses eletrônicos são proibidos desde 2009 no Brasil, conforme uma resolução da Anvisa (RCD 46/2009). A proibição inclui o comércio, a importação e a propaganda de todo e qualquer tipo. Essas medidas foram tomadas principalmente por seu uso afetar diretamente a saúde das pessoas. Não obstante, o Ministério da Justiça determinou que empresas suspendessem as vendas deste tipo de cigarros eletrônicos, sob pena de um valor diário de R$ 5 mil reais em multa, caso não fosse cumprido.
A Empresa British American Tabacco Brasil foi a única do ramo a se manifestar sobre a lei. Em nota à BBC Brasil, ela informou que isso “é mais uma etapa do processo regulatório e não representa a conclusão final da agência”.
O Dia Nacional de Combate ao Fumo criado desde 1986, para sensibilizar e informar a população sobre os danos do fumo a saúde coletiva, uma vez que é considerado doença. Em Rondon do Pará, há um histórico de tentativas passadas, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, para atuar no combate ao tabagismo, seja dispondo de programas e/ou serviços para prevenção ou tratamento da doença. Antes, a cidade chegou a experienciar um projeto piloto no postinho do bairro Gusmão, para o controle da doença, mas foi desfeito. Hoje, permanece o Programa Saúde na Escola, uma parceria entre duas secretarias: saúde e educação, que ao longo do ano trabalham com orientações nas escolas.
O Ministério da Saúde por meio do Inca estabelece que “o Brasil ratificou a Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco (CQCT/OMS), no artigo 5.2. “Estabelecer ou reforçar e financiar mecanismo de coordenação nacional ou pontos focais para controle do tabaco”. Os profissionais de saúde de Rondon sempre alertam que esses produtos afetam ao longo dos anos, não só a saúde e a estética, mas, também as relações pessoais e sociais, em função dos efeitos negativos de quem inala, e de quem respira ao redor (fumante passivo).
A enfermeira ressalta a importância de tomar decisões quanto ao uso. A busca por informações é um caminho. “Pesquisem e busquem saber as informações disponíveis, a partir disso, decidam se vão usar ou não, produtos novos”. Larissa faz o apelo final aos jovens sobre os perigos desse uso. “Há coisas bem mais legais e estimulantes para fazer, que inalar produtos químicos”. Fumar é um perigo! Seus efeitos são lentos, mas catastróficos no futuro.