Centro de reabilitação em Rondon do Pará está desativado há mais de 3 anos.
por Kauã Fhillipe
Voltou a virar pauta na Câmara de Vereadores de Rondon do Pará, em sessão legislativa dessa segunda, 15, o projeto que autoriza a doação de um terreno para a construção do centro de reabilitação Nova Vida, cujo objetivo é dar oportunidade de recomeço para dependentes químicos. O projeto já havia sido negado na câmara em outubro do ano passado, sob a justificativa que um projeto como esse não pode ser dentro do perímetro urbano, tendo que ser no mínimo a 15 km da cidade.
O presidente da câmara, o vereador Marcus Mapincol, disse que a proposta está em trâmite na vereação e que ainda tem que passar por outras etapas como comissões, julgamento e, por fim, a votação. Mapincol já adianta que caso precise votar (o presidente da câmara só vota em casos de desempate), seu voto será contra a doação e defende que um centro de reabilitação precisa ser no mínimo 15 km afastado do município pela segurança dos moradores: “eu não vou colocar um centro de reabilitação no meio de um bairro. Porque hoje você sabe que centro de recuperação não é mais fechado, tem que estar com o portão aberto, o cara entra se quiser. Deus o livre alguém tenha uma recaída e sai no bairro, aí tem uma criança, tem uma mulher sozinha em casa, um adolescente e essa pessoa tá na recaída, e aí? Eu vou trazer isso pra dentro da cidade?”, destaca o parlamentar. Mesmo sendo contra, o presidente diz que possivelmente a doação do terreno será aprovada.
Alberto Rocha, atualmente servidor da prefeitura, foi o responsável por trazer o projeto Nova Vida para Rondon do Pará cerca de 17 anos atrás, que inspirado nas suas vivências de vício no alcoolismo, viu no município a necessidade de prestar a ajuda que recebeu para se livrar da droga. O antigo espaço onde o centro funcionava teve que ser desativado para dar lugar ao atual aterro sanitário de Rondon, por isso, foi firmado um acordo entre Rocha e a prefeitura para que um novo terreno seja doado para o Nova Vida. Quase 4 anos depois, o espaço físico não saiu do papel. A expectativa que o novo local seja no Loteamento América, com o terreno medindo cerca de 14.510,00m².
Sobre a doação do terreno ter sido negada em outubro, o criador do centro disse em entrevista dada ao Rondon Notícias em novembro de 2023, que essa justificativa é inadequada, pois não existe logística que funcione para um lugar tão afastado: “se botar uma comunidade com toda essa distância, não tem a logística pra você dar assistência ao projeto. Você está excluindo as pessoas da sociedade. E não pode ser feito assim. Nem o Ministério Público aceita e nem a Federação aceita. Ninguém aceita. O projeto fica inviável”. Alberto ainda explica que uma das principais finalidades de um centro de reabilitação é permitir que familiares e amigos visitem internos para acompanhar a evolução do tratamento.
Claudionor Soares dos Santos, 77, morador de Rondon, que estava presente na sessão de segunda-feira, se mostra favorável ao projeto: “eu acho bom, tira muito dependente químico das ruas e cuida deles. Já vi muitos se recuperar, uns eram viciados e hoje tão até trabalhando. Muitos não quer né, vai e volta, mas outros permanece direito” afirma o morador.
Centro Nova Vida
O Centro Nova Vida funcionava na popularmente conhecida como ladeira do S, numa iniciativa dele de dar oportunidade de recomeço para dependentes químicos. Como um ex-alcoólatra, ele reconhece os males que a bebida e outras drogas podem causar na vida de uma pessoa e em decorrência disso, como uma forma para ajudar a outras pessoas que estavam na mesma situação em que ele se encontrava, criou uma casa de reabilitação em Rondon do Pará, assim que chegou no município. Rondon não tinha um centro, então quem quisesse procurar ajuda teria que ir para cidades vizinhas como Marabá, Açailândia ou Bragança. Foi aí que Rocha sentiu mais ainda a necessidade da criação de um.
De acordo com Alberto Rocha, o lugar funcionava por meio de doações feitas pela própria comunidade e por empresários do município. Eles também iam atrás de apoio da prefeitura e dos vereadores, mas nem sempre tinham resposta. Outra forma de assistência prestada, ainda segundo Rocha, era pelo o intermédio de igrejas, em que pastores e padres iam prestar solidariedade por meio de conversas e palestras.
Para ingressar, os dependentes teriam que buscar ajuda por livre e espontânea vontade, porque para Alberto só assim que gera resultados, quando a pessoa reconhece que é um dependente químico e quer se tratar. Acontecia também mobilizações entre moradores de rua e de ‘bocas de fumo’ (local onde se comercializa de forma irregular diversas drogas) para conhecerem o Centro. A estimativa é que já passaram por volta de mais de 300 pessoas pelo Centro Nova Vida.
O criador do projeto conta da necessidade de Rondon possuir um centro como o Nova Vida, e que se os vereadores da cidade se conscientizassem assim como ele, o projeto já teria sido aprovado: “Não é importante só para mim, para o Alberto, não. É para todos nós […] não é todos, mas dentro de Rondon do Pará, tem umas pessoas que precisam do tratamento. E vem gente de fora em busca desse tratamento”, finaliza Rocha.