Por Luciene Ferreira
O que era para ser cartão postal da cidade tornou-se um pesadelo. O Terminal Rodoviário de Rondon do Pará “Erondina Miranda” construído em 1887, na gestão do Prefeito Gildeu Miranda (in memorian), trabalha com rotas estaduais e interestaduais. É usado para embarque e desembarque de passageiros, além de servir como rede de apoio aos motoristas e passageiros em suas rotinas de viagem. O local conta com três guichês que fornecem a venda de passagens, quatro lanchonetes e um banheiro público que fica aberto 24 horas por dia. As companhias que fazem rota em Rondon, são: Boa Esperança, Jamjoy, Porto Rico, MP viagens, Real Maia.
Mas o que deveria ser algo simples e corriqueiro na vida dos passageiros, hoje tem ganhado um novo perfil, devido à falta de manutenção em sua infraestrutura e de segurança pública. Além dessas problemáticas, a população reclama do aumento de pessoas em situação de vulnerabilidade social, que fazem do terminal e dos arredores praticamente a sua casa.
O assunto foi pauta na última Sessão Ordinária da Câmara Municipal, que aconteceu no último dia 15 de abril. Os vereadores Warlen Santos (MDB) e Fagner Barreto (PL) relatam que já fizeram moções destinadas ao Poder Executivo requerendo a melhoria da infraestrutura e da segurança. As solicitações foram enviadas desde o ano de 2021 e, segundo os parlamentares, até o momento não obtiveram respostas.
O vereador Warlen Santos ressaltou que o que deveria ser um cartão postal da cidade, vive uma triste realidade que envergonha a população rondonense devido às condições precárias que se encontra: “O local tornou-se moradia para usuários de drogas, moradores de rua, gerando insegurança para os funcionários e passageiros, causando perigo e medo na população. No terminal já foram registrados homicídios, trazendo grande impacto e insegurança daqueles que precisam usar o local para embarque e desembarque”, afirma o vereador. Segundo Warlen, “medidas emergenciais precisam ser tomadas e pensadas para solucionar esse problema, pois não dá mais pra tolerar”.
Já o vereador Fagner Barreto afirma que ele e vários parlamentares já enviaram requerimentos e moções para a prefeitura com o objetivo de melhorar a infraestrutura e a segurança do terminal rodoviário: “O que deveria ser um cartão postal da cidade com uma estrutura agradável e segura para as pessoas que transitam, deveria ser prioridade da gestora da cidade. Há mais de três anos e meio nesse mandato e não obtivemos nenhuma resposta do poder executivo”, afirma Barreto.
Trabalhadores temem por sua segurança
A rotina dos trabalhadores do Terminal Rodoviário tem sido um dilema devido à falta de segurança. Os funcionários relatam que além das brigas constantes, assassinatos já ocorreram no lugar e que, por isso, não estão se sentindo seguros no ambiente de trabalho.
Francisco das Chagas Araújo Nunes, que trabalha há quase vinte anos na Rodoviária, reclama que a falta de estrutura e, principalmente, de segurança tem atrapalhado os trabalhos e a comodidade dos passageiros que vão até lá comprar sua passagem.
“O local se tornou moradia para usuários de drogas, pessoas alcoolizadas e sem moradia fixa. Alguns deles têm família, casa, mas insistem em ficar aqui o dia todo, se instalando e tornando o local sua casa”, explicou.
Francisco relata ainda que diariamente na rodoviária passam pessoas de várias cidades, como Imperatriz, Itinga e Santa Inês. De acordo com o funcionário, os passageiros são importunados, fazendo com que a maioria prefira comprar a passagem online, pois evitam ir ao Terminal pelo medo e transtornos que tem acontecido diariamente.
“Até abrir a carteira virou um problema. Os passageiros são abordados por essas pessoas pedindo dinheiro, causando constrangimentos e intimidação”, afirma Francisco. Ele relata ainda que “há briga quase todos os dias. As brigas começam nos arredores e sempre terminam dentro da rodoviária, sendo que nem as câmeras e a presença das pessoas intimidam os agressores”, reitera.
Pela falta de segurança e conforto, as empresas de transporte tiveram que tomar algumas iniciativas, como não cobram taxas de embarque. Como os horários de maiores movimentos são pela madrugada, as empresas direcionam os passageiros para embarque e desembarque na BR-222, em frente à rodoviária velha, por uma questão de segurança dos passageiros e dos funcionários dos guichês.
Insegurança no dia a dia dos moradores
Segundo os moradores da região, além da falta de segurança, eles têm enfrentado outros problemas, como falta de iluminação pública e o som alto em horários noturnos devido ao aumento do número de bares na região.
Vanusa Dias, de 48 anos, mora na praça da rodoviária há 38 anos. Ela disse estar muito preocupada com essa situação: “É muito triste levantar e se deparar com uma pessoa dormindo na sua calçada. Você sabe que algo está errado e não pode fazer nada para ajudar”, lamentou Vanusa.
As ruas do terminal são caminhos da casa de Elaine Pereira Gomes, de 36 anos, também moradora da região. O que era para ser só mais uma passagem, hoje não é mais. Elaine conta que para transitar os motoristas precisam ter muito cuidado, pois pessoas alcoolizadas ficam andando sem direção pelos arredores do Terminal.
“Aqui é o meu caminho de casa, tenho medo de andar com o vidro do carro aberto, pois já fui abordada por uma mulher pelo fato de estar de carro. Me senti intimidada e com medo”, relata Elaine.
Empresários se sentem intimidados com a precariedade
A proprietária da lanchonete “Box Dois”, Maria dos Santos Marques, há mais de vinte anos tem seu comércio na rodoviária. Ela afirma que as vendas caíram devido às proporções que o recinto tomou. Maria conta ainda que os banheiros são abertos para o público, a manutenção é feita pela prefeitura de segunda-feira a sábado, até o meio-dia, mas depois desse horário não acontece mais limpeza por parte do poder público.
“Já presenciei várias brigas, inclusive tenho facas, canivetes, algumas já joguei fora, que por medo e precaução tomei das mãos deles para evitar maiores tragédias. Para mim, o que nós precisamos é de segurança para trabalhar em paz”, afirma a empresária.
Já a proprietária e professora de dança Brenda Silva, do Studio 7/8, conta que os moradores em condição de rua aumentam à noite, com pessoas dormindo dentro e fora do Terminal. A empresária conta que durante suas aulas ela e suas alunas têm se sentido constrangidas por homens alcoolizados que desferem palavras obscenas e insultos. De acordo com Brenda, eles sentam nas calçadas o que acaba tirando a liberdade e a fluidez das aulas. Ela disse ainda que quase sofreu agressão física, que já presenciou várias brigas, além de situações intimas e constrangedoras nos arredores da academia.
“Eu e minhas alunas estamos com medo de estar aqui. A viatura da polícia passa, mas não é o suficiente. Precisamos de um policial fixo por aqui para nos garantir segurança”, afirma Brenda.
Passageiros às margens da BR-222
Gilberto Tadeu Passos Santos, de 76 anos, veio de Belém com a esposa para visitar a família e disse que se surpreendeu com a situação. Para sua surpresa, ao chegar em Rondon às três e meia da manhã, foi avisado que o ônibus não iria parar na rodoviária, pois o terminal estaria fechado. A empresa informou ao passageiro que eles iriam descer na BR-222. Sem conseguir contato com o familiar, Gilberto e sua esposa permaneceram às margens da rodovia até o amanhecer.
Retornando para casa depois de sete dias em Rondon, Gilberto disse “que não sabe qual foi pior, se foi ficar na BR, ou estar na rodoviária a espera do ônibus, diante de homens alcoolizados e banheiro sujo”. Ele fala ainda que sentiu preocupação pelas pessoas que estão de passagem pela cidade e não sabem dessa situação: “Aqui está precisando de estrutura e segurança, um órgão para cuidar dessa situação, estou indignado e chateado”, relatou Gilberto Santos.
Euclene Vieira Gomes é natural do Novo Oriente, Ceará, tem 54 anos e vive em Rondon há 40. Encostado, com duas pernas e costela quebradas, ele disse: “Aqui é o meu lugar e daqui ninguém me tira”. Ele recebe auxilio doença, mas disse que sente confortável e feliz, que a rodoviária é a casa dele, que ali ele come, toma banho e dorme.
O que a prefeitura diz:
A prefeita Adriana Andrade foi procurada pela reportagem do Rondon Notícias, e por meio de um aplicativo de mensagem, a Assessora de Imprensa, Jane Cleia Feitosa, mandou um áudio que disse: “A Gestão que trabalha e cuida de você desde o início da gestão prioriza a questão da segurança. Na questão do terminal Rodoviário, foram instaladas câmeras de segurança Speedy Dome 360 graus, que pega em torno de todo ambiente”, explicou a assessora.
Sobre a iluminação pública, Jane disse que sempre são trocadas as lâmpadas do prédio e dos postes para que o ambiente não fique escuro, e que também existe um acordo com a Polícia Militar para fazer rondas com mais frequência no local. “Por isso existe todo esse investimento em relação à segurança, iluminação, câmera de segurança e a ronda da polícia”, afirma Jane Cleia.
Em respostas às moções e ofícios dos parlamentares, a Assessoria disse: “Em relação aos ofícios e moções a administração encaminha para as secretarias de acordo as demandas solicitadas pelos nobres, em seguida é respondido ao Parlamento municipal”.