Grupo de voluntários em Rondon do Pará realiza há 10 anos ações para colaborar na manutenção do Hospital de Amor em Barretos, São Paulo
por Elisângela Cangussu e Luciene Ferreira
“Me sinto realizando uma missão na vida das pessoas que passam por essa situação”, afirma a empresária Adma de Paula, voluntária em Rondon do Pará nas ações do Hospital de Câncer, localizado em Barretos – São Paulo, atualmente com o nome Hospital de Amor, que recebe pacientes oncológicos de várias localidades do Brasil. Tudo começou quando Adma recebeu a visita da analista de capacitação de recursos do Hospital de Amor, no ano de 2013 que veio convidá-la para ser coordenadora do hospital no município. Ao receber o convite a mesma por impulso o rejeitou, porém não poderia recusar “senti como se fosse um chamado, eu fui escolhida”, conta Adma.
Imediatamente, ela começou pela sensibilização de mais pessoas para fazer parte das ações, e pensando na realização do primeiro leilão, o primeiro passo foi entrar em contato com o proprietário do tatersal de leilões, Geci Sampaio, porque ali seria o ponto de partida. Com aceitação do novo voluntário que no momento se tornou presidente do leilão, a equipe começou a se formar com mais adesão de voluntários solidários e, também a mobilização da comunidade rondonense em prol de ajudar pacientes vítimas de câncer e angariar fundos para continuar mantendo o hospital, que hoje é considerado referência no tratamento da doença em todo o país e principalmente o maior polo de intervenção oncológica gratuita da América Latina.
Leilão
O leilão é tradição do hospital de amor e acontece em várias cidades, que tem a finalidade de arrecadar fundos e reunir a comunidade em prol do tratamento de câncer.
Com uma grande estrutura montada com o apoio de fazendeiros juntamente com a família e os voluntários, o primeiro leilão em Rondon aconteceu em 2013, com vários tipos de doações, no qual foi arrecadado menos de 100.00 mil reais, mas a cada ano o valor aumenta. No quinto leilão realizado este ano de 2023, foi arrecadado R$ 711.00 mil reais. No primeiro leilão podia doar o que quisesse, e “o que causava mais comoção era o que mais valor tinha”, afirma a coordenadora.
Ela relata “Me emociono ao recordar do primeiro leilão, uma criança falou pra mãe que ia doar duas bonecas da Barbie, porque tinha muitas, e a mãe chegou diretamente no leilão com a criança com as duas bonequinhas, e quem arrematou sensibilizado pela atitude da criança, devolveu as bonequinhas para a mesma. Foi emocionante. Inclusive o Hospital de Amor estará lançando um livro com as histórias de leilão”, conta Adma.
Caminhada “Passos que Salvam”
O Hospital de Amor trabalha na prevenção, e a caminhada passos que salvam acontece todos os anos no mês de novembro. Tendo como madrinha da ação, a comerciante Ana Kretlli para impulsionar as atividades. Para ela, estar à frente dessa mobilização e conscientização da população sobre os sinais e sintomas do câncer infantojuvenil e a importância do diagnóstico precoce da doença é muito gratificante. “Eu acredito nesse trabalho lindo do Hospital de Amor, que tem atendido inúmeras pessoas não apenas de Rondon, mas de todo o país,” afirma Ana. Neste período são vendidas camisetas em alusão ao evento, em que a maioria dos comerciantes aderem à compra. Na primeira caminhada as empresas aderiram as camisetas como uniforme em um dia da semana. Existe uma grande mobilização para às vendas e, também aceitação da comunidade rondonense e o dinheiro é convertido para o hospital. A caminhada é realizada pelas principais ruas da cidade, no mês de novembro, com a participação da população.
Com 61 anos de história, o hospital possui diversos centros de tratamento e prevenção pelo Brasil e mesmo sendo inteiramente via Sistema Único de Saúde – SUS, ele recebe donativos de vários artistas, empresas, empresários, médicos e sociedade civil. Além de hospital, ele é um centro de pesquisa, com um completo atendimento dos seus pacientes e suporte emocional.
E sempre tem uma ação de voluntários acontecendo, e uma das que ocorre durante o ano inteiro são os cofrinhos instalados no comércio da cidade, inclusive em Rondon, onde recebe doações que são enviadas para o hospital e para casas de apoio às famílias que permanecem na cidade de Barretos, junto com o paciente durante o tratamento, além da casa de acolhimento para o paciente que se encontra em estado avançado da doença.
O paciente Kevin Lucas
O diagnóstico e tratamento de Kevin Lucas Lima de Souza, de 07 anos, foi fruto da caminhada Passos que Salvam. No ano de 2020, através de exames, ele foi diagnosticado com leucemia. Logo se tratou de fazer o encaminhamento dele ao hospital. Como a família não tinha condições financeiras, recebeu ajuda da população através de rifas e da Prefeitura Municipal, para a compra das passagens de avião. Ao chegar no hospital, a mãe de Kevin conta sobre o acolhimento: “a criança é matriculada e recebida numa casa temática cheia de brinquedos feita especialmente para elas, enquanto brincam, os médicos fazem o procedimento e elas nem sabem que estão sendo atendidas, lá nem parece hospital”, afirma Elidiane Lima. Kevin como já estava em situação crítica da doença, ficou logo internado por vinte e dois dias. Depois recebeu alta, e a família permaneceu no alojamento do hospital para iniciar o processo de quimioterapia. Como o tratamento não estava dando o resultado esperado, a criança precisou passar pelo transplante de medula óssea, após longos oito meses de espera foi constatado que a medula deu certo e Kevin foi curado.
Com retornos marcados para acompanhamento a cada seis meses, em 2022 a família retornou para Rondon do Pará. A mãe de Kevin relata que o hospital realmente faz jus ao nome. “Ele é um hospital de amor mesmo, de tão acolhedor que é. A gente se sente abraçado por todos, com tanto carinho e cuidado que recebemos dos funcionários, independente de status social ou cor, todos são tratados bem, pois o importante para eles é salvar vidas.”
Coordenadora Adma de Paula e o paciente Kevin Lucas / Imagem: Luciene Ferreira
Existência do grupo voluntariado
Há 10 anos, o grupo de voluntários se consolidam em realizar ações para encaminhar pessoas e renda ao hospital. Desde a sua formação, já foram atendidos mais de sessenta rondonenses. O foco é agilizar o acesso adequado ao diagnóstico e ao tratamento do câncer e, com isso, reduzir os índices de mortalidade pela doença no Brasil. A coordenadora esclarece que para ser encaminhado, precisa apenas da biópsia através dos postos de saúde do município, com essa documentação em mãos, o envio é feito de imediato ao hospital e, logo, esse paciente será encaminhado com seu familiar, onde receberá todo atendimento necessário, pois no hospital de amor não há fila de espera.
O hospital também conta com carretas equipadas que viajam por todo o Brasil para realizar exames preventivos gratuitos à população, como forma de diagnóstico precoce do câncer. Inclusive a carreta já esteve em Rondon três vezes, em que teve um paciente que foi diagnosticado com a doença e foi transferido imediatamente para o tratamento.
Adma, emocionada, descreve que tem sido gratificante fazer parte desse projeto, com novas aprendizagens e desafios e que “a vida só é digna de ser vivida se você for envolvida em outras vidas.” E faz o convite para que você também seja um doador ou um voluntário no Hospital de Amor.
matéria feita em dezembro/23 e publicada na edição “Comunicação Comunitária” do jornal impresso do Rondon Notícias