Índice de imunização entre crianças de até 4 anos está entre os piores no município. As fake news são uma das principais causas dessa queda.
Por Deyvison Junior
A recusa pela vacina tem se tornado uma preocupação crescente para os profissionais de saúde em Rondon do Pará. Roberta Silva, coordenadora do setor de vacinação, relata que muitos pais, inclusive adultos, têm demonstrado receio em relação às vacinas, especialmente após o surgimento das vacinas contra a COVID-19. “Estamos vendo um aumento alarmante na recusa de vacinas, especialmente depois que as vacinas contra a COVID-19 começaram a ser distribuídas. Muitos pais e até mesmo adultos estão relutantes em vacinar, e isso está impactando diretamente a imunização das crianças”, explica Roberta.
Em 2023, as doses da vacina BCG, que são administradas em menores de 4 anos, registraram um dos piores índices no município, com menos de 2% de aplicação, segundo dados do SESP de Rondon do Pará.
A vacina BCG é essencial para a prevenção de formas graves de tuberculose, como a meníngea e a miliar. No entanto, a desinformação, especialmente as fake news relacionadas à vacina da COVID-19, tem levado muitos pais a não vacinarem seus filhos, contribuindo diretamente para a queda nas taxas de imunização. “Estamos vendo a cobertura vacinal cair drasticamente, com muitos pais associando outras vacinas às da COVID-19, apenas porque são fabricadas pelos mesmos laboratórios, como o da Pfizer”, relata Roberta. “Não necessariamente precisa ser da mesma fabricante, mas a onda de fake news sobre vacinas é um dos principais fatores,” acrescenta.
A pandemia de COVID-19 e as fake news associadas ainda deixam rastros, impactando a confiança da população nas vacinas, especialmente naquelas voltadas para crianças pequenas. Os profissionais de saúde têm lutado contra essa onda de desinformação, que atrapalha a vacinação no município. Há uma resistência significativa à vacinação, especialmente em relação às vacinas de rotina e à vacina contra a COVID-19, com pessoas acreditando que já tomaram doses suficientes.
Marinalva Esmera, vacinadora da UBS do Centro, confirma essa resistência. “A resistência à vacina é maior contra a COVID-19. Enquanto nas vacinas de rotina quase não há resistência, muitas pessoas dizem que não vão tomar mais doses, especialmente após já terem recebido uma. Isso inclui crianças de seis meses a cinco anos, gestantes e idosos acima de 60 anos, que deveriam receber doses a cada seis meses, mas estão resistindo às doses de reforço”. A faixa etária mais difícil de imunizar é a das crianças até 4 anos, devido à quantidade de doses necessárias e ao fato de muitos pais não completarem o esquema vacinal.
Marinalva também destaca a dificuldade relacionada à vacina BCG, que vem em frascos com 20 doses, com validade de até 6 horas após aberta. Isso gerou desinformação entre a população de Rondon do Pará devido ao risco de desperdício das doses. “Por isso, concentramos a aplicação em um único local e a realizamos a cada 15 dias para evitar a perda das vacinas”, relata Marinalva.
Conscientização
Laura Gomes, mãe de uma criança de 1 ano, não hesita em procurar a UBS para vacinar sua filha. Ao ser questionada sobre a importância de seguir o esquema vacinal completo, ela afirma que seu principal motivo é garantir a saúde e o bem-estar da filha, tanto no presente quanto no futuro. “É pelo futuro dela, pelo bem-estar dela e pelo futuro dos outros ao redor. Quero que minha filha tenha saúde e um futuro seguro, e isso só é possível com a vacinação completa”, disse a mãe, refletindo o sentimento de muitos pais que entendem a relevância de proteger seus filhos contra doenças preveníveis.
Os agentes de saúde do município desempenham um papel crucial na conscientização da população sobre a importância da vacinação, visitando casas e orientando sobre as vacinas necessárias. Eles estão na linha de frente contra a resistência à vacinação no município.
Digerlane Santos, agente de saúde de Rondon, observa que a maior resistência é em relação à vacina contra a COVID-19, devido às fake news, especialmente envolvendo crianças. “Somente a vacina da COVID-19 enfrenta resistência hoje por parte dos pais. Mas vai ser igual à da gripe: quando foi lançada, ninguém queria; hoje brigam por ela”, relata Digerlane.
Para combater essa desconfiança, os agentes de saúde tentam se posicionar como exemplos positivos no município. “Se eu não vacino meu filho, como vou dizer para uma mãe que a vacina é eficaz?”, questiona Digerlane, ressaltando a importância de usar relatos reais de pessoas conhecidas para convencer os pais. Além disso, ela destaca a importância de incentivar palestras nas escolas como forma de educar desde cedo sobre a importância da imunização.
Por que a imunização é importante?
As vacinas estimulam o sistema imunológico a criar defesas contra agentes infecciosos, sem que a pessoa precise sofrer os efeitos das doenças. Elas não apenas protegem o indivíduo vacinado, mas também ajudam a proteger toda a população, especialmente aqueles que não podem ser vacinados por motivos de saúde, como bebês e pessoas com imunidade comprometida.
Infelizmente, a disseminação de informações falsas tem gerado medo e confusão sobre as vacinas. É essencial que a população busque informações em fontes confiáveis, como o Ministério da Saúde, e evite compartilhar conteúdos de origem duvidosa. Vacinar as crianças é essencial para garantir que elas cresçam saudáveis e protegidas contra doenças graves. O esquema vacinal recomendado pelo Ministério da Saúde deve ser seguido à risca para garantir a proteção completa. Os pais desempenham um papel crucial ao garantir que seus filhos recebam todas as vacinas no tempo certo, como recomenda a Organização Mundial da Saúde.