
Por Thiago Daves
Desde criança, Fátima sempre teve uma ligação com a educação. Seu amor pelos livros e pela aprendizagem começou cedo, influenciado por sua professora das séries iniciais. Ela admirava a maneira como a docente ensinava, sua postura em sala de aula e o efeito positivo que causava nos alunos. Esse fascínio despertou nela o desejo de seguir a mesma carreira e dedicar sua vida ao ensino.
Sua história na educação começou em 1992, quando assumiu a função de professora substituta enquanto ainda finalizava o magistério. Inicialmente, cobriu a licença-maternidade de uma docente na Escola Padre José Fontanela. Apesar de já ter realizado algumas substituições curtas anteriormente, foi nesse momento que sentiu, de fato, a responsabilidade de ser professora. A experiência foi marcante, pois foi acolhida pela equipe escolar. Ao final do período de substituição, surgiu uma nova oportunidade na mesma escola, permitindo que permanecesse no cargo até o fim do ano letivo. No ano seguinte, foi contratada pelo município e, desde então, nunca mais deixou a educação.
Radicada em Rondon do Pará desde os quatro anos, acompanhou o crescimento da cidade desde seus primeiros passos como vilarejo. Cresceu, estudou, construiu sua família e consolidou sua carreira no município, sem nunca cogitar a possibilidade de sair.
A transição de professora para diretora foi um processo natural, impulsionado pelo reconhecimento de seus colegas. Após alguns anos lecionando, assumiu o cargo de vice-diretora na Escola Padre José Fontanela e, posteriormente, tornou-se diretora, permanecendo nessa função por quase uma década. Sua indicação foi uma escolha orgânica dentro da escola, pois já possuía o respeito e a confiança da equipe. Na época, a nomeação de diretores era uma decisão do prefeito, baseada na recomendação da Secretaria de Educação, mas sua aceitação começou dentro da própria instituição.
Apesar da boa relação, a função de diretora trouxe desafios. Fátima passou quase uma década à frente dessa instituição, liderando a escola durante momentos difíceis, como a violência associada a gangues. No entanto, ela ressaltou que, com o apoio da Polícia Civil e do Conselho Tutelar, a situação foi controlada.

Ao longo de sua carreira, Fátima acompanhou diversas transformações na educação, especialmente nas últimas três décadas. Ela destaca a melhoria na qualificação dos professores como uma das maiores mudanças. “Quando comecei, muitos professores não tinham curso superior, apenas o magistério. Hoje, a maioria dos professores já tem licenciatura, e isso fez toda a diferença”, afirma. Fátima também acompanhou a implementação de políticas como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que trouxe novos avanços no ensino, além de uma maior valorização da educação no Estado e no município. Ela acredita que essas mudanças melhoraram a qualidade do ensino, beneficiando diretamente os alunos.
Quando criança, sonhava em ser professora, mas jamais imaginou que um dia ocuparia cargos de gestão em escolas. Estudou na Escola Padre José de Anchieta e, mais tarde, no Colégio Dionísio Bentes, onde, anos depois, se tornaria diretora. Seu incentivo à educação veio de casa, especialmente de seu pai, que valorizava o hábito da leitura. Ele sempre a apoiou e ficava feliz ao vê-la lendo nos livros, mesmo quando sua irmã brincava dizendo: “Você gosta de ler porque não gosta de fazer o serviço de casa”. E aí, meu pai até reclamava porque não ajudava muito ela nos afazeres; eu estava sempre lendo, e ele falava assim: ‘Deixa a menina, ela gosta de ler, então deixa ela ler’”, detalha.
A influência da sua primeira professora também foi determinante. Além de ser uma educadora competente e dedicada, era alguém que se preocupava com os alunos, chegando a visitá-los em casa. Esse cuidado marcou Fátima, que levou esses valores para sua própria prática pedagógica.
Conciliar a vida pessoal com a carreira foi um dos maiores desafios que enfrentou. Seu marido, que sempre trabalhou na fazenda, ajudou muito na criação das filhas, assumindo tarefas como organizar materiais escolares e participar de reuniões. Durante anos, trabalhou nos três turnos, o que exigiu muito equilíbrio para dar atenção à família. Ela relembra a intensidade dessa rotina, mas também a importância de buscar um equilíbrio, já que o trabalho na escola exigia muito dela, mas sua família sempre foi uma prioridade.
Mesmo com a aposentadoria no município, Fátima não pretende se afastar totalmente da educação. Atualmente, é diretora da Escola Dionísio Bentes, onde atua pelo Estado há 16 anos. Além disso, sente vontade de retomar sua atuação como psicopedagoga, ajudando crianças com transtornos de aprendizagem. Sobre o futuro, Fátima também planeja tirar um ano sabático para aproveitar mais o tempo com sua família, especialmente com seus netos. “Quero passar mais tempo no campo, curtindo a família, viajando, sem a pressão do trabalho. E também quero me dedicar à minha arte. Nas horas vagas, sou artista plástica”, revela. A arte tem sido uma forma de terapia para ela, que gosta de criar quando está com a mente cheia e acaba criando novas peças.
Olhando para trás, sente que sua maior lição foi sempre buscar a excelência, não em comparação com os outros, mas consigo mesma. Agora, prestes a se aposentar da rede municipal, Fátima está tranquila quanto ao legado que deixa. “Estou saindo com a sensação de dever cumprido. Fiz tudo com o melhor de mim, e sei que deixei minha marca. Caminhei com muitas pessoas e aprendi muito com elas”, diz orgulhosa. Fátima sente que sua maior lição foi sempre buscar a excelência, não em comparação com os outros, mas consigo mesma. “Eu acredito que a busca pela excelência é sobre ser melhor do que você mesmo foi ontem”, afirma. Ela finaliza destacando como se sente realizada e orgulhosa de tudo o que conquistou, não apenas como professora, mas como pessoa.